São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A força do PMDB

RENAN CALHEIROS

O PMDB emerge, mais uma vez, como a grande força eleitoral do país, com o melhor desempenho desde o fim do bipartidarismo

OS BRASILEIROS ainda vivem a expectativa do segundo turno para dez governos estaduais e para o Planalto, mas já é patente que o PMDB emerge, mais uma vez, como a grande força eleitoral do país, com o melhor desempenho desde o fim do bipartidarismo, na década de 80.
A vitória eleitoral reforça o acerto da decisão do PMDB, que decidiu, em convenção, não lançar candidatura própria à Presidência da República.
Livre para costurar alianças, o partido pôde fazer o maior número de deputados, senadores e governadores. A votação para a Câmara foi surpreendente. E a bancada de 89 deputados federais -a maior eleita- ainda deve chegar a cem. Se algumas legendas registraram acentuada e repetida queda em suas bancadas, o PMDB aumentou o número de deputados eleitos -foram 75, em 2002. Nosso partido continua com a maior bancada no Senado. E pode aumentar ainda mais o número de senadores, dependendo do resultado final das eleições.
O PMDB foi o mais votado em todas as regiões do Brasil. Garantiu 13,5 milhões de votos para deputado federal, ficando pouco atrás do PT -13,9 milhões-, porque teve desempenho tímido em São Paulo. Mas elegeu quatro governadores no primeiro turno (Espírito Santo, Amazonas, Tocantins e Mato Grosso do Sul) e participou de coligações vitoriosas em mais seis Estados. Além disso, seus candidatos vão disputar o segundo turno em outros seis Estados, com boas chances de vitória. Merece destaque o bom desempenho do PMDB em Alagoas, com três deputados eleitos em uma bancada de nove, além da eleição do futuro vice-governador do Estado.
O PMDB tem uma história de 40 anos e a marca da luta pela redemocratização. É um partido pluralista, que sempre se caracterizou pela democracia interna, pela convivência com as várias correntes de opinião e tendências. As eventuais divergências são, às vezes, exacerbadas pelas próprias diferenças regionais do Brasil e pelo fato de sermos um partido de grande capilaridade, presente nos mais de 5.000 municípios brasileiros -são mais de 2 milhões de filiados, 8.315 vereadores e 1.059 prefeitos.
Essas características deixam muito à vontade as lideranças do partido para que cada uma escolha livremente seu caminho. O importante é não entrar em crise existencial e ser coerente. Em política, é importante ter um lado e fazer a opção que melhor se adapte ao perfil ideológico de cada um. Mais importante ainda é construir um projeto político para o partido. Em 2010, o PMDB terá essa oportunidade, e nomes não faltarão para uma candidatura à Presidência.
O excepcional desempenho eleitoral põe sobre os ombros do partido a responsabilidade, que tem sido histórica, de ser o fiador da governabilidade, seja qual for o resultado da eleição.
A separação de Poderes e o multipartidarismo são a base de funcionamento de nossas instituições democráticas. Esse contexto define o presidencialismo de coalizão, adotado aqui e em vários países. Há muitos modelos.
Talvez o mais indicado para o momento seja uma coalizão de fato com as forças aliadas, que preveja divisão de responsabilidades na definição de políticas públicas e outro tipo de acordo que inclua, eventual ou circunstancialmente, as correntes que não sejam da base, mas estejam dispostas a colaborar com a votação de uma agenda mínima para o país, como as inevitáveis reformas tributária e política. Portanto, o papel do PMDB está sendo e continuará sendo fundamental para o futuro da estabilidade política e institucional.
O eleitor mostrou, de novo, grande sabedoria, enviando vários recados nessa eleição, impondo o segundo turno quando considerou necessário um debate mais amplo e detalhado de idéias e confirmando o mandato de quem considerou ter dado boas respostas aos problemas de suas regiões. Não quer dizer, absolutamente, que o brasileiro reprovou de imediato quem ainda disputa a eleição. Pelo contrário: ele quis se informar mais, convocar os candidatos para que esclareçam melhor suas bandeiras e visualizar se eles são capazes de cumprir as promessas de campanha.
A voz das ruas, como diria o saudoso Ulysses Guimarães, funciona também como uma palavra de prudência, um desafio aos candidatos para que deixem de lado uma campanha aguerrida demais, radical demais. E troquem a tensão eleitoral pelo debate de propostas. É isso que interessa às pessoas. Elas querem saber se suas vidas vão mudar depois das eleições, se seus representantes vão ajudar nessa mudança. E é justamente isso que o PMDB está disposto a fazer: contribuir para que o Brasil seja um país mais justo e menos desigual.


RENAN CALHEIROS, 51, senador (PMDB-AL), é o presidente do Senado Federal. Foi deputado federal pelo PMDB-AL (1983-91), líder do governo na Câmara (governo Collor) e ministro da Justiça (governo FHC).

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