|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
A força do PMDB
RENAN CALHEIROS
O PMDB emerge, mais uma vez, como a grande força eleitoral do país, com o melhor desempenho desde o fim do bipartidarismo
OS BRASILEIROS ainda vivem a
expectativa do segundo turno
para dez governos estaduais e
para o Planalto, mas já é patente que o
PMDB emerge, mais uma vez, como a
grande força eleitoral do país, com o
melhor desempenho desde o fim do
bipartidarismo, na década de 80.
A vitória eleitoral reforça o acerto
da decisão do PMDB, que decidiu, em
convenção, não lançar candidatura
própria à Presidência da República.
Livre para costurar alianças, o partido
pôde fazer o maior número de deputados, senadores e governadores.
A votação para a Câmara foi surpreendente. E a bancada de 89 deputados federais -a maior eleita- ainda
deve chegar a cem. Se algumas legendas registraram acentuada e repetida
queda em suas bancadas, o PMDB aumentou o número de deputados eleitos -foram 75, em 2002. Nosso partido continua com a maior bancada no
Senado. E pode aumentar ainda mais
o número de senadores, dependendo
do resultado final das eleições.
O PMDB foi o mais votado em todas
as regiões do Brasil. Garantiu 13,5 milhões de votos para deputado federal,
ficando pouco atrás do PT -13,9 milhões-, porque teve desempenho tímido em São Paulo. Mas elegeu quatro governadores no primeiro turno
(Espírito Santo, Amazonas, Tocantins e Mato Grosso do Sul) e participou de coligações vitoriosas em mais
seis Estados. Além disso, seus candidatos vão disputar o segundo turno
em outros seis Estados, com boas
chances de vitória. Merece destaque o
bom desempenho do PMDB em Alagoas, com três deputados eleitos em
uma bancada de nove, além da eleição
do futuro vice-governador do Estado.
O PMDB tem uma história de 40
anos e a marca da luta pela redemocratização. É um partido pluralista,
que sempre se caracterizou pela democracia interna, pela convivência
com as várias correntes de opinião e
tendências. As eventuais divergências são, às vezes, exacerbadas pelas
próprias diferenças regionais do Brasil e pelo fato de sermos um partido
de grande capilaridade, presente nos
mais de 5.000 municípios brasileiros
-são mais de 2 milhões de filiados,
8.315 vereadores e 1.059 prefeitos.
Essas características deixam muito
à vontade as lideranças do partido para que cada uma escolha livremente
seu caminho. O importante é não entrar em crise existencial e ser coerente. Em política, é importante ter um
lado e fazer a opção que melhor se
adapte ao perfil ideológico de cada
um. Mais importante ainda é construir um projeto político para o partido. Em 2010, o PMDB terá essa oportunidade, e nomes não faltarão para
uma candidatura à Presidência.
O excepcional desempenho eleitoral põe sobre os ombros do partido a
responsabilidade, que tem sido histórica, de ser o fiador da governabilidade, seja qual for o resultado da eleição.
A separação de Poderes e o multipartidarismo são a base de funcionamento de nossas instituições democráticas. Esse contexto define o presidencialismo de coalizão, adotado aqui e
em vários países. Há muitos modelos.
Talvez o mais indicado para o momento seja uma coalizão de fato com
as forças aliadas, que preveja divisão
de responsabilidades na definição de
políticas públicas e outro tipo de
acordo que inclua, eventual ou circunstancialmente, as correntes que
não sejam da base, mas estejam dispostas a colaborar com a votação de
uma agenda mínima para o país, como as inevitáveis reformas tributária
e política. Portanto, o papel do PMDB
está sendo e continuará sendo fundamental para o futuro da estabilidade
política e institucional.
O eleitor mostrou, de novo, grande
sabedoria, enviando vários recados
nessa eleição, impondo o segundo
turno quando considerou necessário
um debate mais amplo e detalhado de
idéias e confirmando o mandato de
quem considerou ter dado boas respostas aos problemas de suas regiões.
Não quer dizer, absolutamente, que
o brasileiro reprovou de imediato
quem ainda disputa a eleição. Pelo
contrário: ele quis se informar mais,
convocar os candidatos para que esclareçam melhor suas bandeiras e visualizar se eles são capazes de cumprir as promessas de campanha.
A voz das ruas, como diria o saudoso Ulysses Guimarães, funciona também como uma palavra de prudência,
um desafio aos candidatos para que
deixem de lado uma campanha
aguerrida demais, radical demais. E
troquem a tensão eleitoral pelo debate de propostas. É isso que interessa
às pessoas. Elas querem saber se suas
vidas vão mudar depois das eleições,
se seus representantes vão ajudar
nessa mudança. E é justamente isso
que o PMDB está disposto a fazer:
contribuir para que o Brasil seja um
país mais justo e menos desigual.
RENAN CALHEIROS, 51, senador (PMDB-AL), é o presidente do Senado Federal. Foi deputado federal pelo
PMDB-AL (1983-91), líder do governo na Câmara (governo Collor) e ministro da Justiça (governo FHC).
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Claudio Weber Abramo: Toma, que o filho é teu
Índice
|