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Prejuízos na estufa
Estudo sobre custos do aquecimento global mostra que é mais barato gastar para estabilizar emissões de gases-estufa
FOI DIVULGADO na semana
passada o primeiro grande estudo sobre os impactos econômicos do efeito
estufa, o aquecimento anormal
do planeta impulsionado pela
queima de combustíveis fósseis.
O trabalho, que recebeu elogios
de importantes economistas, foi
produzido por sir Nicholas
Stern, chefe do Serviço Econômico do governo britânico e ex-economista-chefe do Banco
Mundial (Bird).
O principal mérito do esforço
de sir Nicholas, que se estende
por mais de 700 páginas recheadas de gráficos e tabelas, é tentar
explicitar os custos da inação,
que podem ser assustadores.
São muito poucos os que ainda
negam que a ação humana esteja
contribuindo para elevar a temperatura da atmosfera terrestre,
mas muitos ainda sustentam que
tentar evitar esse efeito seria um
desperdício de dinheiro. O relatório Stern prova o contrário.
Valendo-se de novas evidências científicas que mostram que
o ritmo de elevação da temperatura é bem maior do que se acreditava, o trabalho chega à conclusão de que, se forem mantidos
os atuais padrões de emissão de
gases-estufa, a produção global
deixará de aumentar em pelo
menos 5% a cada ano ao longo
dos próximos dois séculos em relação ao que cresceria sem o problema ambiental. No pior cenário, a perda chegaria a 20%.
Os números variam tanto porque ainda há muitas incertezas
envolvidas. Uma hipótese é que o
aquecimento desencadeie processos que tendem a produzir
mais aquecimento. Cientistas
suspeitam de que o derretimento do permafrost (o solo permanentemente congelado do Ártico) libere grandes quantidades
de gás carbônico, reforçando
ainda mais o efeito estufa.
Aumentos de temperatura de
até 5C em relação aos níveis
pré-industriais como os esperados transformariam profundamente a geografia física e humana do planeta. Seriam as populações mais pobres que sofreriam
mais. O aquecimento e o conseqüente aumento do nível do mar,
devido à expansão térmica do
oceano e ao derretimento de geleiras de terra firme, causariam
inundações que obrigariam até
100 milhões de pessoas a abandonarem regiões costeiras.
Já o custo de estabilizar as
emissões nos presentes níveis
-o que, supõe-se, evitaria as piores conseqüências do efeito estufa- é estimado por sir Nicholas
em 1% do PIB mundial até 2050.
Em termos puramente econômicos, portanto, vale a pena nos
esforçarmos agora para evitar
pagar um preço muito maior no
futuro. Um custo da ordem de 1%
do PIB nem sequer impediria a
economia mundial de continuar
crescendo a taxas expressivas.
As dificuldades que frustram
uma ação mais enérgica são de
ordem política. Para começar,
ainda há muita incerteza envolvida. Ninguém sabe ao certo o tamanho do prejuízo nem quando
ele se dará. Pior, trata-se uma
questão intergeracional. Ainda
que nós venhamos a pagar parte
do preço, a porção mais amarga
da conta ficará para as gerações
futuras. E, aparentemente, não
se pode esperar de certos políticos que se preocupem seriamente com um problema cujas conseqüências não verão em seus
mandatos nem em suas vidas.
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