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VALDO CRUZ
No reino do faz-de-conta
BRASÍLIA - Triste começo de
ano. Saímos de uma encenação e
entramos em outra. Nossos atores
políticos se mantêm fiéis ao estilo
"o que interessa é o meu objetivo
particular, que se dane o coletivo".
A guerra verbal segue sem que se
consiga elencar pontos mínimos de
consenso, sobre os quais o país deveria construir propostas visando
um bem comum. A cada dia me
convenço mais que se trata de utopia falar disso por estas bandas.
Difícil avaliar quem é o mais responsável por esse clima. Se o governo Lula, com sua performance arrogante, com ares de dono da verdade e de detentor do mapa que nos
levará ao paraíso. Ou a oposição,
que deu para vestir um figurino que
não consegue disfarçar sua real silhueta. Soa por demais falsa a pregação de alguns de seus integrantes, que sugerem soluções que antes condenavam. Ou descartam
conversas que antes prescreviam.
E assim seguimos, com um debate que até pode ser produtivo para
este ou aquele partido político, mas
que pouca serventia tem para o
conjunto da sociedade.
A grande vitória a oposição já a
teve. Impôs uma redução da carga
tributária. Poderia mudar o discurso e sair na frente na defesa de uma
agenda de consenso. Será assim impossível construí-la?
Já o governo experimentou sua
pior derrota. Mas parece não ter assimilado a lição. Sua disposição para o diálogo não soa real. Está mais
para o confronto, na linha de quem
tem uma receita a ser absorvida por
todos, nunca manipulada por vários mãos.
Em resumo, o novo ano começa e
o Brasil da política continua vivendo no reino do faz-de-conta. Lula
fez de conta que não subiria os impostos e subiu. Pregou o entendimento e enfiou goela abaixo sua receita tributária. A oposição fez de
conta que acreditava, mas sabia
muito bem o que iria acontecer.
Enquanto isso, o mundo real
aguarda que seus políticos acordem
desse sonho. Para não pagar sempre a conta no final.
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