São Paulo, domingo, 7 de fevereiro de 1999

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Pensar diferente

CLÓVIS ROSSI

Madri - Desorientado? Inseguro? Você não está sozinho, se serve de consolo.
Pegue, por exemplo, o caso dos Estados Unidos, incontestável paradigma da modernidade, seja lá o que isso for. Nos últimos 30 anos, a confiabilidade das instituições de todos os gêneros despencou aos olhos do público.
Em 1964, 75% dos americanos achavam que o governo fazia a coisa certa a maior parte do tempo. Nos anos mais recentes, só de 25% a 30% têm idêntico ponto de vista.
Vale o mesmo para universidades, grandes companhias, medicina e, claro, jornalismo.
São dados mencionados em recente artigo de Joseph Nye Jr., reitor da Escola de Governo John F. Kennedy, da Universidade Harvard, para "The International Herald Tribune".
Parte da explicação pode estar no fato de que governantes e acadêmicos estão, a rigor, tão perplexos quanto os mortais comuns.
Acabaram, quase todos, rendendo-se à globalização e aos mercados, como se fosse uma inevitabilidade idêntica ao fato de que o sol nasce todos os dias, gostemos ou não.
Menos mal que há gente pensando o contrário, mesmo em templos acadêmicos em que o liberalismo fincou raízes profundas.
Caso mais recente: Dani Rodrik, professor da mesma Kennedy School de Harvard, para quem a abertura da economia não é essencial para o crescimento econômico. Tende, ao contrário, a aprofundar a desigualdade entre países e, como a crise em andamento prova, deixar os países em desenvolvimento mais vulneráveis a choques financeiros.
Conselho de Rodrik aos governantes: "Não deixem a integração econômica internacional dominar seus pensamentos sobre o desenvolvimento".
Como a tribo tupiniquim se fascina com PhDs em universidades americanas, podia ao menos parar para pensar um pouco no que estão dizendo PhDs com uma visão diferente.



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