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ESPETÁCULO DA VIOLÊNCIA
O assassinato do subdiretor
do presídio Bangu 1 e os conflitos entre moradores de favelas e
policiais ocorridos nos últimos dias
no Rio de Janeiro recolocaram em
evidência a questão da segurança pública no país. A situação é grave e não
está circunscrita a esta ou aquela localidade. É um drama nacional. O
narcotráfico e o crime organizado
não dão sinais de recuo. Trata-se de
um problema para o qual não haverá
saída, caso o poder público continue
demonstrando sua conhecida inépcia para implementar ações coordenadas em diversas frentes.
Em relação às polícias, elas estão
longe de merecer dos governos estaduais e federal os investimentos necessários, sejam eles propriamente
materiais, sejam referentes a aperfeiçoamentos organizacionais. Se em
alguns Estados, entre eles São Paulo,
ainda podem-se observar iniciativas
que visam melhor coordenar e aparelhar as corporações, em outros elas
estão à beira da indigência. A própria
Polícia Federal, tida como mais eficiente, está submetida a um quadro
de penúria. De um modo geral, os
salários são baixos e a capacitação,
insuficiente. Corrupção e violência,
não por acaso, são mazelas de setores da polícia brasileira invariavelmente apontadas por organizações
nacionais e internacionais que estudam e acompanham o assunto.
No tocante à Justiça, se bem que a
caminho de uma reforma, ora em
debate no Congresso, ela continua
deixando a desejar. O Judiciário peca
em aspectos cruciais: não apenas é
moroso como, por força da legislação, acaba condenando a penas de
reclusão infratores que poderiam ser
punidos com sanções alternativas.
Também em decorrência disso, o
sistema penitenciário encontra-se
superlotado. De um modo geral,
nossos presídios são verdadeiros depósitos, nos quais se acotovelam criminosos irrecuperáveis e infratores
de menor periculosidade, prontos a
serem coagidos a ingressar nas fileiras do crime mais escolado. Freqüentes rebeliões desafiam o controle do Estado sobre as cadeias. São conhecidos os casos patéticos ocorridos em presídios de "segurança máxima", que geraram inúmeras crises
e levaram o governo federal, no ano
passado, a prometer mundos e fundos -como é habitual em momentos de maior mobilização da opinião
pública. Quase nada, porém, foi feito. Onde estão, afinal, os novos presídios federais então anunciados?
Não bastassem essas deficiências,
o país tem atravessado uma realidade
econômica calamitosa. Ela pode ser
resumida numa fórmula diabólica:
concentração de renda, baixo crescimento e alto desemprego.
Não se devem nutrir esperanças
quanto a mudanças significativas no
atual cenário, caso esforços não sejam redobrados para o aperfeiçoamento das instituições ligadas à segurança e não melhorem as condições socioeconômicas. Mantida a dinâmica atual, a sociedade continuará
atordoada e amedrontada pelos espetáculos de violência que se encenam em nossas cidades.
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