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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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DILEMA GENÉTICO

É ético gerar uma vida para servir como banco de tecidos a serem utilizados em procedimentos médicos? Colocada dessa forma, a resposta a essa pergunta tende a ser negativa. Diante de um caso concreto, porém, a resposta pode ser outra.
A Justiça britânica foi novamente acionada para decidir se Raj e Shahana Hashimi poderão ou não gerar, com auxílio de técnicas de reprodução assistida, um bebê cuja medula óssea seja compatível com a de outro filho, Zain Hashimi, de quatro anos, que sofre de uma doença (talassemia beta maior) cujo tratamento consiste num transplante de medula. Não foram localizados outros doadores compatíveis com Zain. Decisão de instância inferior da Justiça impediu que se selecionasse um embrião para essa finalidade.
A talassemia beta é uma doença hereditária que acomete os glóbulos vermelhos do sangue. Nos casos mais graves, como o de Zain, a vida pode ser prolongada por décadas com transfusões periódicas de sangue e uso de uma droga chamada desferroxamina. O transplante de medula óssea, porém, melhora o prognóstico do menino, além de acrescentar-lhe qualidade de vida. Os riscos para o doador são reduzidos.
É difícil deixar de se solidarizar com o pequeno Zain. Se a seleção de embriões já é admitida para outras finalidades, como evitar doenças genéticas do próprio nascituro, e se a doação de medula óssea é um procedimento lícito entre irmãos, mesmo que menores, pareceria razoável e ético permitir a seleção embrionária.
Na decisão anterior, os juízes entenderam que o órgão governamental que havia autorizado a tentativa dos Hashimi não tinha competência para fazê-lo. A nova decisão é aguardada para a Páscoa.
A questão suscitada pelo caso de Zain é de fato complexa. Assim como existem boas razões para permitir o procedimento, há de fato motivos para temer a utilização de nascituros como bancos de tecido. A discussão pública sobre o que é ou não aceitável precisa ser iniciada. Os britânicos a estão travando, ainda que nas cortes. No Brasil, infelizmente, o assunto segue quase ignorado.



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