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DILEMA GENÉTICO
É ético gerar uma vida para servir como banco de tecidos a serem utilizados em procedimentos
médicos? Colocada dessa forma, a
resposta a essa pergunta tende a ser
negativa. Diante de um caso concreto, porém, a resposta pode ser outra.
A Justiça britânica foi novamente
acionada para decidir se Raj e Shahana Hashimi poderão ou não gerar,
com auxílio de técnicas de reprodução assistida, um bebê cuja medula
óssea seja compatível com a de outro
filho, Zain Hashimi, de quatro anos,
que sofre de uma doença (talassemia
beta maior) cujo tratamento consiste
num transplante de medula. Não foram localizados outros doadores
compatíveis com Zain. Decisão de
instância inferior da Justiça impediu
que se selecionasse um embrião para
essa finalidade.
A talassemia beta é uma doença hereditária que acomete os glóbulos
vermelhos do sangue. Nos casos
mais graves, como o de Zain, a vida
pode ser prolongada por décadas
com transfusões periódicas de sangue e uso de uma droga chamada
desferroxamina. O transplante de
medula óssea, porém, melhora o
prognóstico do menino, além de
acrescentar-lhe qualidade de vida. Os
riscos para o doador são reduzidos.
É difícil deixar de se solidarizar
com o pequeno Zain. Se a seleção de
embriões já é admitida para outras finalidades, como evitar doenças genéticas do próprio nascituro, e se a
doação de medula óssea é um procedimento lícito entre irmãos, mesmo
que menores, pareceria razoável e
ético permitir a seleção embrionária.
Na decisão anterior, os juízes entenderam que o órgão governamental que havia autorizado a tentativa
dos Hashimi não tinha competência
para fazê-lo. A nova decisão é aguardada para a Páscoa.
A questão suscitada pelo caso de
Zain é de fato complexa. Assim como existem boas razões para permitir o procedimento, há de fato motivos para temer a utilização de nascituros como bancos de tecido. A discussão pública sobre o que é ou não
aceitável precisa ser iniciada. Os britânicos a estão travando, ainda que
nas cortes. No Brasil, infelizmente, o
assunto segue quase ignorado.
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