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CARLOS HEITOR CONY
A dança inacabada
RIO DE JANEIRO - O PT nasceu, cresceu e chegou ao poder pregando reformas, lutando por reformas. A
agrária, a fiscal, a previdenciária, a
urbana, a partidária. Tem agora elementos poderosos, toda a estrutura
de um Estado gigantesco, para promover pelo menos uma delas.
A mais importante, a meu ver, seria
a agrária, inclusive por questão de
antiguidade. E seria o verdadeiro
ponto de partida para combater a fome e, de quebra, diminuir a escandalosa distribuição de renda que nos coloca entre os países mais atrasados
do mundo.
Mas todas as demais são também
necessárias e urgentes. A partidária,
que poderia parecer a mais descartável, começa a ser feita às avessas, não
por uma legislação eleitoral responsável e moderna, mas pelos próprios
interessados, naquela famosa base
ensinada por Lampedusa: mudar para continuar o mesmo.
Vários partidos, nascidos dos escombros da Arena e do MDB, já mudaram de programa, de nome e até
de bandeira. O último a aderir à modernidade do novo milênio, mas sem
nenhuma esperança de durar mil
anos, foi o partido do Maluf, que recolheu os pedaços mais consistentes
da antiga Arena.
Na outra ponta da corda, e com
mais presteza, o velho Partidão foi o
primeiro a mudar o nome, como um
transexual que decide mudar de sexo
legal e fisiologicamente.
O PDT nunca deixou de suspirar
para ser o tradicional PTB, o mais
desfigurado dos partidos pré-64. O
Prona nem nome decente de partido
é, parece nome desses genéricos que o
Serra colocou no mercado. O PMDB
consegue a proeza de ser situação e
oposição conforme as circunstâncias.
E o PFL, que sempre esteve no poder,
mais cedo ou mais tarde mudará de
nome para não enxovalhar a antiga
sigla, que sempre frequentou os andares de cima da política nacional.
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