São Paulo, Quarta-feira, 07 de Abril de 1999
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O ADUBO DA SAFRA DE CPIs

Ociosa que estava de CPIs, parece que a Assembléia Legislativa de São Paulo pretende sair de seu tradicional limbo letárgico para investigar a Telefônica, empresa que motivou o maior número de queixas públicas dos consumidores paulistas no ano passado. Mas o mais importante não é o aparente sinal de vida da Assembléia, mas o objeto de seu inquérito.
Embora fermente no Legislativo paulista, trata-se de mais uma tentativa de investigar estranhezas em feitos e ações ligadas ao governo federal, safra de inquéritos adubada por certa desordem na coalizão governista. Os partidos coligados, ou partes deles, parecem repensar o adesismo de sempre, necessidade posta pelo fato de o governo em que se penduraram estar fraco, apesar de ter ainda três anos de mandato.
Enquanto não se decidem, espicaçam esse governo com ameaças de inquéritos. Desse modo, acumulam moeda de troca ou se distanciam um pouco da peste da impopularidade.
Agora, pois, parece ser um tanto menos difícil atirar no governo federal -veja-se a promissora CPI dos bancos. Colabora ainda para a relativa debilidade federal a desmoralização provocada pelo acúmulo de esqueletos suspeitos no armário, que descem mesmo ao nível de abusos vulgares, como o Carnaval subsidiado do ministro Clóvis Carvalho.
Até agora, tais tentativas de inquérito foram infrutíferas, envenenadas desde o nascedouro pela pressão do Planalto e pela conivência do Parlamento governista. Nos tempos da bonança do Real, o consenso da popularidade artificialmente supervalorizada minou investigações como a do Sivam, da pasta rosa e dos votos comprados da emenda da reeleição, para ficar em alguns casos apenas.
No momento, vale mais aos parlamentares tripudiar um pouco sobre um governo abalado por erros econômicos e pela mania sistemática de desconversar sobre escândalos evidentes. É um modo tortuoso e algo lamentável de lançar um pouco de luz sobre os negócios da República.


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