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CPI ou saco de batatas?
JOSIAS DE SOUZA
São Paulo - Quando menino, adorava jogar bola. Era centro-avante. Nada excepcional. O físico não ajudava.
Chamavam-me "Palito". Ainda assim,
fazia gols. Mais por deficiência dos goleiros do que por méritos próprios.
Tudo caminhava relativamente
bem. Até o surgimento de Betão, um
garoto parrudo, escalado para jogar
na zaga do principal adversário. Sempre que era submetido a uma situação
de "risco de gol", como dizia, Betão esquecia a bola. Partia em direção às
canelas hostis.
Certa vez esbocei uma reação. E Betão: "Vem cá, você é um homem ou é
um saco de batatas?". Convenci-me
ali, ainda no chão, de que meu porte
combinava mais com jogo de damas,
gamão, xadrez, coisas assim.
Agora, vejo em Brasília cenas que
ressuscitam a imagem de Betão. Há
uma estranha movimentação em torno da CPI dos Bancos.
Costuma-se apontar a simples existência da CPI como prova de que existe disposição do governo para investigar as malfeitorias praticadas na virada do câmbio. É uma pseudodisposição. Falsa como nota de três reais.
Sob holofotes, FHC vinha mesmo se
comportando como craque. Dizia ser
favorável à apuração. Se duvidavam,
sacava uma daquelas frases bem-torneadas, dava um drible verbal e saía
para o abraço.
Nos subterrâneos, porém, o presidente conspira ferozmente contra a
CPI. Nas últimas 72 horas, foi flagrado
jogando de zagueiro. Não um zagueiro qualquer. Como Betão, ele joga pesado. Investe contra tornozelos como
se desejasse restabelecer o domínio na
entrada da área.
Determinou duas coisas aos senadores aliados: que concluam logo a "investigação", sem prorrogações. E que
não chamem para depor nem os filhos
de Mendonção, da corretora Link,
nem os donos de bancões com lucros
estranhos.
A CPI precisa mostrar agora se é
"macho" mesmo ou se é apenas mais
um "saco de batatas".
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