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A rainha e a favela
LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - A rainha da Dinamarca está no Brasil. Foi a São Paulo,
esteve na corte brasiliense e chegou
ontem ao Rio para mais um jantar.
Hoje, a rainha repete o programa favorito de dez entre dez personalidades
que visitam o Rio de Janeiro: vai a
uma favela.
Não entendo essa mania de visitar
favela. Fico na dúvida se a iniciativa é
sempre do visitante, que considera importante para sua imagem juntar-se
aos pobres nativos, ou se parte dos anfitriões, que querem mostrar que somos pobres, mas bonzinhos.
Em geral, essas visitas quase nada
significam. O "circo" é armado de maneira que tudo seja rápido e sem riscos. Terminada a festinha, o que resta
aos que têm de voltar à vida miserável
de sempre?
Bem, tomara que sua majestade não
invente de tomar banho de mar. Seria
difícil ela entender o que significa "vazamento do emissário submarino".
A artista da Rede Globo Regina Casé
causou certo incômodo com sua entrevista à Folha há dias. Houve protestos
de leitores, muita gente não gostou da
maneira como ela se referiu aos paulistanos, os quais, segundo a artista de
TV, vivem um apartheid social que faria com que ricos e pobres jamais se
misturassem.
Ela reclamava da baixa audiência
de seu programa de TV na cidade e
usou como contraponto para essa discrepância antidemocrática o que ela
chamou de "neguinho abusado" do
Rio. Esse, talvez, mais antenado com
seu programa.
Sem querer entrar no mérito de
quem é melhor para a audiência de
Casé, se paulistanos ou cariocas, o fato
é que ela cometeu uma expressão
apropriada para os dias de hoje, o
"neguinho abusado".
Supondo que o "neguinho" possa ser
também um "branquinho", eis que estamos com abusados até a tampa. Do
traficante que instala circuito de TV
para controlar o tráfego ao banqueiro
que salva a pele com o dinheiro do
contribuinte e ainda tenta dar sopapos em jornalistas, passando por todos
os que se reservam o direito de, abusadamente, permanecer calados.
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