São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O prego de Serra

NOVA YORK - A política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso recebeu anteontem o último prego no seu caixão, cravado por ninguém menos que José Serra, candidato supostamente oficialista à eleição de outubro.
Não foi, é verdade, um prego ruidosamente cravado. Mas basta ler com um mínimo de cuidado a frase de Serra sobre a dívida interna para deduzir a condenação frontal.
Segundo o senador tucano, "a dívida interna brasileira é perfeitamente manejável -basta política monetária e crescimento econômico".
Ora, política monetária significa juros mais baixos para gerar um custo menos insuportável da rolagem da dívida. É tudo o que o governo FHC jamais fez.
Crescimento econômico é outra característica ausente -ou, na melhor das hipóteses, presente em doses microscópicas- no período FHC.
Conclusão inescapável: ou o próximo governo muda esse quadro ou a dívida se torna "não-manejável".
Outro candidato, Ciro Gomes, acrescenta que, para obter prazos mais longos de pagamento da dívida, são necessárias reformas tributária e previdenciária e "a superação do déficit externo". Fácil, não é?
Ainda mais quando Lívia Ferrari observa, na "Gazeta Mercantil": "A corrente de comércio do país (soma de exportação e importação) é, atualmente, a mais baixa dos últimos seis anos".
Como Luiz Inácio Lula da Silva e Anthony Garotinho competem para ver qual dos dois é mais oposicionista a FHC, vai-se criando um quadro em que não haverá candidato para defender a política econômica.
Pudera: conforme a Primeira Página de ontem desta Folha, "em apenas três dias, o Banco Central aumentou em 76,2% a dívida que vence no primeiro trimestre de 2003, quando começa o próximo governo".
Nessa batida, a Argentina vai ficando cada vez mais próxima.
P.S. - A viagem a Nova York se deve a convite do Council on Foreign Relations para participar de seminário sobre o pós-11 de setembro.



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