São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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A cartada de Abbas

ATÉ AQUI , Mahmoud Abbas, o presidente palestino, mostrou-se um líder indeciso e fraco. Agora, entretanto, ele tem um plano que poderá mudar essa imagem. Ontem estendeu até o fim de semana o prazo para que o Hamas concorde em subscrever o "documento dos prisioneiros", pelo qual a organização terrorista reconheceria o direito de Israel à existência. Caso o Hamas mantenha sua decisão de não assinar o texto, Abbas levaria a questão a referendo popular, e sua aprovação seria muito provável.
O "documento dos prisioneiros" foi elaborado por Marwan Barghouti e outras lideranças palestinas, tanto do Fatah (grupo de Abbas) como do Hamas, presas em Israel. O texto propõe a criação de um Estado palestino nos limites estabelecidos pelas fronteiras de 1967 e o ingresso do Hamas na OLP (Organização para a Libertação da Palestina) -ambas as disposições implicam o reconhecimento de Israel.
As tensões entre Abbas e o Hamas se acirraram depois que o grupo terrorista venceu as eleições de janeiro e formou um novo governo. Como resposta, Israel deixou de repassar fundos à Autoridade Nacional Palestina (ANP), que também teve cortada a ajuda financeira que recebia dos EUA e da União Européia.
Embora o Hamas tenha vencido o Fatah de Abbas por larga margem, observadores dão como quase certa a aprovação do "documento dos prisioneiros" em referendo. O triunfo do Hamas em janeiro foi mais um repúdio da população à corrupta e ineficiente administração do Fatah do que um endosso às posições anti-Israel do grupo extremista.
O referendo não tem força legal para obrigar o Hamas a reconhecer o Estado judeu, mas seria, certamente, uma vitória política para Abbas. Tratando-se, porém, do Oriente Médio, existem chances de tudo dar errado.


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