|
Próximo Texto | Índice
De plano em plano
Os PACs se multiplicam no governo Lula, criando ilusão de planejamento; agora é a vez de ciência, tecnologia e inovação
NÃO SERÁ por falta de
planos que o Brasil
deixará de desenvolver-se nos próximos
anos. O segundo governo Lula,
ao que parece, se especializa em
compilar ações em curso e apresentá-las como se emanassem de
planejamento verdadeiro, mas
com espírito propagandístico.
Foi assim com o PAC, Plano de
Aceleração do Crescimento, uma
simples lista obras em andamento. Depois vieram os PACs da
educação e da segurança. Teme-se que ocorra algo similar com o
chamado PAC da ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, pretende
divulgar seu PAC setorial após
reunião do Conselho Nacional
de Ciência e Tecnologia prevista
para dia 27. Por ora, apresentou
versão preliminar a grupos como
a Academia Brasileira de Ciência
e a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência.
Em evento no Rio de Janeiro,
Rezende estimou em R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões a carteira
de boas intenções e promessas
para 2010. No entanto, o próprio
orçamento do MCT não deve ir
além de projetados R$ 20 bilhões
nesse período. Ou seja, o MCT
está também computando recursos e boa vontade de outras fontes governamentais e privadas.
No que veio a público, nota-se
uma paradoxal ausência de novidade em matéria de planejamento. Não é inédito elencar como
prioridade a inovação tecnológica nas empresas, ou eleger nada
menos que oito áreas estratégicas, de Amazônia e Antártida a
Segurança e Semi-Árido. Nem,
tampouco, em destacar o papel
da educação científica.
Mesmo que estipule metas, como a de elevar de 0,5% para 1,5%
ou 2% do faturamento a parcela
que empresas investem em pesquisa e desenvolvimento, um
plano digno do nome deve indicar as ações e o caminho para
chegar ao objetivo. Não só decidir o que fazer, mas detalhar como será feito o que se decidiu.
O plano esboçado no MCT parece limitar-se a projetar incrementos graduais no sistema já
existente, como passar de 65 mil
a 95 mil bolsas anuais de pesquisa, ou formar 16 mil doutores por
ano. Não se vislumbra um elenco
focalizado de prioridades, nem
uma disposição de usar a capacidade indutora do Estado para
tornar realidade um conceito
claro do futuro por alcançar.
Nesse sentido, o único programa federal que conseguiu destacar-se, nos últimos tempos, foi o
Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE). Em primeiro
lugar, apoiou-se sobre a constatação de que o foco tumoral da
educação se encontra no ensino
básico. Depois, identificou metas
e ferramentas específicas: criou
um Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb), fixou
a meta de elevar essa nota de 3,8
para 6 em 15 anos e escolheu
concentrar esforços nos mil municípios com pior desempenho.
Não se divisam bandeiras tão
evidentes no PAC da ciência e
tecnologia. O período de menos
de um mês até seu exame no
Conselho Nacional de Ciência e
Tecnologia talvez seja insuficiente para transformá-lo num
verdadeiro plano, mas há tempo
para o MCT aperfeiçoá-lo.
Próximo Texto: Editoriais: O risco da acefalia Índice
|