São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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Nova turbulência

Caso da venda da Varig impõe problemas para o governo, num quadro em que falta credibilidade a acusados e acusadores

MAL RECUPERADA do pífio desfecho -se é que foi desfecho- do caso do dossiê, a ministra Dilma Rousseff se vê às voltas com novas acusações. Incidem, desta vez, sobre sua interferência pessoal na venda da Varig a um grupo suspeito de não possuir qualificações reais para participar da operação.
O negócio foi firmado em 2006, quando estava no auge a crise da tradicional empresa aérea brasileira. Mas a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) notava um empecilho à sua concretização.
Pela lei, uma empresa aérea só pode ter 20% do capital nas mãos de estrangeiros. Do grupo interessado na compra participava um fundo americano de investimentos, além de três sócios brasileiros, sobre o quais pesava a desconfiança de que fossem simples "laranjas" na transação.
Vieram, entretanto, pressões para que a venda se realizasse mesmo assim. Segundo Denise Abreu, diretora da Anac naquele período, a ministra Dilma Rousseff teria considerado "muito difícil" averiguar as condições financeiras dos compradores. Suas declarações de Imposto de Renda não se caracterizavam pela opulência? Ora, é comum no país a prática da sonegação. Faça-se o negócio.
As declarações de Denise Abreu, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", foram contestadas pela ministra, e reiteradas por mais três ex-diretores da Anac.
O negócio, de qualquer modo, se fez, não sem antes surgir em cena uma personagem conhecida. Era o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula, que foi contratado para acelerar o negócio.
As relações entre Lula e Teixeira remontam aos tempos, relativamente mais austeros, em que o líder petista morava numa casa emprestada pelo compadre, enquanto este celebrava contratos suspeitos com prefeituras do PT.
Como se vê, há muito a esclarecer nesse novo caso. Alguns fatores, contudo, tendem a limitar seu potencial de incandescência política, para nada dizer das possibilidades de uma investigação chegar a resultados efetivos.
É bastante escassa a credibilidade da principal voz da acusação. Denise Abreu notabilizou-se por ter tido viagens pagas por empresas aéreas enquanto era diretora do órgão encarregado de controlá-las e pela acusação de ter utilizado um documento sem valor legal para liberar a pista de Congonhas, poucos meses antes do acidente da TAM.
Acresce que a necessidade de pôr fim à crise da Varig era sentida com urgência pelos mais diversos setores da opinião pública. Não havia compradores para a empresa. A pressa do Executivo em resolver o problema não é justificativa para ilegalidades, mas pode não ter no "lobby" a sua única explicação.
Acerto de contas interno, campanha contra as pretensões presidenciais da ministra, caso grave de irregularidade administrativa? Tudo é possível, quando se sabe de que são capazes o PT, o governo Lula, seus companheiros -e, vá lá, os seus compadres.


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