São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006 |
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Tem que abrir, Waldir!
LUCAS PACHECO
Ao longo dos últimos meses, assistimos a pronunciamentos de autoridades, alguns até emocionados, sobre o fato. Mas todos demonstram muito zelo ao tratar de documentos que evidenciam a barbárie e nenhum tato com os parentes dos que desapareceram lutando por um país mais justo. Até aqui, uma atitude tímida de quem deveria encarar com mais arrojo a verdade, não só em memória dos que sucumbiram, mas também pela recolocação de fatos incontestáveis da vida pública em seus devidos lugares. Somos um povão que conhece nossa história por intermédio das minisséries televisivas. E a maioria nem sequer tem o hábito da leitura. Temos jornalistas que se esforçam, mas esses são oriundos da geração que sofreu, que foi empastelada. Os mais jovens, com exceções, não têm o conhecimento, tempo e interesse necessários para futucarem o assunto. Por outro lado, alguns autores aplicados desenvolveram pesquisas muito bem-intencionadas, resultando em memoráveis livros sobre os personagens e fatos daquele período nefasto. Mas também temos os aproveitadores, que vivem hoje no bem-bom, às custas de tão triste passado, produzindo apenas versões romanceadas. Filmes são raros e, quase todos, elitistas, na abordagem direta das atividades daquela época recente -sejam elas da esquerda ou da direita. Uma das boas exceções é "Vlado", de João Batista de Andrade. Uma das seqüências que mais impressionam no brilhante filme foi rodada na praça da Sé, onde o cineasta faz perguntas sobre os fatos que envergonharam o Brasil. As respostas de velhos e jovens são desanimadores "não me lembro" ou "não sei". Triste falta de memória. E aqui vai o centro da questão: os arquivos pseudo-abertos são apenas aqueles do antigo SNI. Os da Aeronáutica, do Exército e da Marinha continuam na escuridão. Vale citar os do Araguaia como um pequeno grande exemplo. Classificados como "secretos" e "ultra-secretos", sua não-abertura imediata desrespeita os sentimentos nada ocultos de quem sofreu o horror, foi humilhado, torturado. Não leva em conta a dor dos familiares. Essa triste memória precisa ser escancarada, para que se faça justiça a tudo, por todos. Para que chegue às escolas, aos livros didáticos. Neste momento deixa de ser simbólica e precisa ser efetiva a passagem de um ser humano que vale a pena, como o é Waldir Pires, pelo Ministério da Defesa. E não vale dizer que não é comigo, não é minha atribuição. Temos uma história difícil, vivemos dias delicados, sobrevivemos na insegurança, com a violência nas ruas e os cadáveres contados às centenas. Precisamos entender esse nosso passado tão presente, para que possamos ser considerados um país com "p" maiúsculo, que conta a verdade aos filhos desta mãe gentil. Sobrou para você, ministro, ou melhor, está em suas mãos dignas um gesto maior em defesa da verdade -não importa em quem vai doer. LUCAS PACHECO, 53, é jornalista, publicitário e consultor de marketing político. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Abdias Nascimento: Ação afirmativa: o debate como vitória Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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