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BORIS FAUSTO
Balanço eleitoral
O Brasil é um dos poucos países
democráticos em que o processo
eleitoral ainda desperta emoções. Neste ano, a campanha começou muito
cedo, interessando a um círculo amplo de pessoas mais informadas. A
grande massa, que muitas vezes não
tem nem sequer tempo para acompanhar os meandros da política, acabou
entrando no clima nas últimas semanas. É certo que há um contingente de
céticos ou de desiludidos em todas as
eleições -gente que não vota em ninguém ou que passa longe dos distritos
eleitorais. E sempre aparece o argumento de que, se o voto fosse facultativo, a porcentagem de votantes se
aproximaria à de outros países em que
a regra é essa.
De qualquer forma, o entusiasmo
pelas eleições presidenciais no Brasil
contrasta com a apatia eleitoral na
grande maioria dos países democráticos. Segundo alguns analistas, a apatia
não seria necessariamente prova de
desinteresse, decorrendo da existência nesses países de um consenso básico e da inexistência de agudos problemas sociais.
A observação contém uma parcela
de verdade, mas apenas uma parcela.
A frieza -quando não o desinteresse- em relação às eleições nos países
democráticos do Primeiro Mundo explica-se não só pelos fatores apontados como por um processo geral de
despolitização. O fenômeno ocorre
também no Brasil, porém em grau diverso. É frequente ouvirmos que "os
políticos são todos iguais", que "só
aparecem em época de eleição" etc.
Mas, quando chegam as eleições -a
para presidente da República em especial-, a grande maioria encara o
processo eleitoral como um ato cívico,
de importância decisiva para os rumos do país.
Se essa característica conta pontos
para a democracia brasileira, outros
aspectos da atual campanha reforçam
a opinião positiva. Ressalto o clima
democrático que reinou em seu transcorrer. Dentre as várias razões para isso, destaca-se o comportamento do
presidente Fernando Henrique. Sua
posição no curso deste ano, como primeiro magistrado da nação -veja-se
o gesto simbólico de encontrar-se
com os quatro principais candidatos
para expor-lhes as dificuldades pelas
quais passa o país-, contribuiu decisivamente para que o respeito às liberdades públicas fosse assegurado.
É claro que há muitas coisas criticáveis -há muito eleitor que se guia pela aparência dos candidatos ou junta
nomes incongruentes. A redução desses traços negativos depende do avanço do nível da educação, seja em termos de mais anos de escolaridade
quanto em qualidade do ensino. Seria
ingênuo afirmar que padrões educacionais mais elevados garantem, por
definição, a melhor qualidade do voto.
Mas tendem a inibir a demagogia, as
promessas inexequíveis e a crença de
que a "vontade política" de um só ou
de uns poucos pode mudar o país.
Nos últimos anos e na campanha
atual, apesar dos tropeços, caminhamos na boa direção. Quem sabe, num
futuro não muito distante, o Brasil
passe de uma "democracia de votantes" -o que já não é pouco- para
uma democracia de cidadãos na plena
acepção da palavra.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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