São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2011

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Trabalho para todos

Emprego e renda em alta no Brasil, na contramão da economia global, são dados positivos, mas aumentam risco de reindexação

Enquanto o mundo só aguarda o desfecho da crise grega para calcular as dimensões da próxima onda de paralisia econômica, o mercado de trabalho no Brasil vive seu melhor momento desde os primeiros meses do Plano Real.
Analistas e autoridades preveem um cenário de "praticamente pleno emprego", como fez a presidente Dilma Rousseff na abertura da Assembleia-Geral da ONU. Descontado algum entusiasmo retórico, a afirmação não é descabida: a taxa de desocupação de 6% apurada pelo IBGE nas regiões metropolitanas capta não muito mais do que trabalhadores deixando um posto rumo a outro.
Fora uma suave interrupção no ano retrasado, o desemprego está em queda desde 2007. Os rendimentos do trabalho, em alta contínua desde 2005. Espera-se melhora até dezembro, devido ao aquecimento sazonal do consumo. Investimentos acumulados nos últimos anos sustentam projeções otimistas para os próximos.
A própria pujança estimula conflitos de interesse. Nos setores público e privado, categorias profissionais numerosas e influentes estão em greve ou em negociações salariais acirradas. E o mesmo Palácio do Planalto, que comemora de público o pleno emprego, agora teme o impacto dos acordos trabalhistas sobre os preços, conforme esta Folha noticiou ontem.
Não há paradoxo ou anomalia. Trata-se do desenrolar previsível de uma aposta algo arriscada da política econômica. Sabia-se, desde o início do ano, que o pico da inflação coincidiria com a data-base de corporações como bancários, parados desde o final do mês passado, petroleiros, que ameaçam parar, e metalúrgicos, com campanhas ainda não encerradas.
De acordo com a prática arraigada no país, a inflação passada, acima de 7% nos últimos 12 meses, é o que baliza todos os pleitos. Num mercado aquecido, esse é o piso. Segundo os dados mais recentes do Dieese, entidade mantida pelos sindicatos, 84% das negociações do primeiro semestre resultaram em reajustes acima da inflação.
Em sucessivas atas de seu Comitê de Política Monetária, o Banco Central tem apontado o risco representado por "aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade". Todavia a escolha foi aceitar maior alta dos preços em troca de menor sacrifício da atividade econômica.
O custo de reajustes salariais generosos tende a ser repassado aos preços, elevando os índices que corrigirão tarifas e contratos. A inflação costuma preceder a indexação, e a segunda realimenta a primeira. Se uma retração global não quebrar esse ciclo, o governo será obrigado a rever seu objetivo de reduzir o patamar dos juros -ou ampliar os cortes de gasto público, o que seria preferível.



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