São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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JURO ZERO

A taxa de juros básica dos EUA foi cortada ontem em mais meio ponto, para 1,25% -o nível mais baixo desde 1961. Como a inflação está perto disso, os juros reais estão praticamente zerados.
A decisão do Fed, o banco central dos EUA, foi tomada olhando para o futuro. No terceiro trimestre, o PIB dos EUA cresceu ao ritmo bastante razoável de 3%. Mas há pessimismo. Não se vê perspectiva de melhora para o investimento privado. Diante disso, o que vem sustentando o crescimento é o consumo, estimulado pelos juros muito baixos, e o crescente déficit do setor público.
Mas a confiança dos consumidores norte-americanos caiu muito, corroída pela queda nas Bolsas de Valores e pelo risco de um conflito no Iraque, o que pode levá-los a reduzir seus gastos. Como o consumo responde por dois terços do PIB dos EUA, seria o estopim do temido novo mergulho recessivo da economia norte-americana.
O Fed age agressivamente para evitar isso. Também pode aumentar a agressividade do estímulo fiscal à atividade econômica. A obtenção de maioria no Congresso pelos republicanos, nas eleições de anteontem, reforçou a perspectiva de que seja aprovado novo corte de impostos. A eficácia para estimular o consumo desse corte, que beneficiaria sobretudo os mais ricos, é questionável. Mas essa crítica tende a ser ignorada nesta conjuntura muito favorável a Bush.
As autoridades dos EUA estão mobilizando até o limite os instrumentos expansionistas que têm à mão. Tanta audácia também traz riscos. O principal é o de fragilizar o dólar. Uma queda abrupta do dólar ante o euro vem sendo inibida pela estagnação da Europa. Mas, como o déficit externo dos EUA continua muito alto e seu déficit público pode aumentar ainda mais, o perigo de uma queda do dólar continua presente.
Em outras circunstâncias, a baixa agressiva dos juros nos EUA estimularia fluxos de capital para países que oferecem maior retorno, como o Brasil. Porém a aversão ao risco, muito alta, vem gerando um "empoçamento" da liquidez internacional nos países ricos. Se os estímulos ao consumo nos EUA forem eficazes para impulsionar a economia, a aversão global ao risco poderá refluir. Mas levará algum tempo.


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