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JURO ZERO
A taxa de juros básica dos
EUA foi cortada ontem em
mais meio ponto, para 1,25% -o nível mais baixo desde 1961. Como a
inflação está perto disso, os juros
reais estão praticamente zerados.
A decisão do Fed, o banco central
dos EUA, foi tomada olhando para o
futuro. No terceiro trimestre, o PIB
dos EUA cresceu ao ritmo bastante
razoável de 3%. Mas há pessimismo.
Não se vê perspectiva de melhora para o investimento privado. Diante
disso, o que vem sustentando o crescimento é o consumo, estimulado
pelos juros muito baixos, e o crescente déficit do setor público.
Mas a confiança dos consumidores
norte-americanos caiu muito, corroída pela queda nas Bolsas de Valores e pelo risco de um conflito no Iraque, o que pode levá-los a reduzir
seus gastos. Como o consumo responde por dois terços do PIB dos
EUA, seria o estopim do temido novo mergulho recessivo da economia
norte-americana.
O Fed age agressivamente para evitar isso. Também pode aumentar a
agressividade do estímulo fiscal à atividade econômica. A obtenção de
maioria no Congresso pelos republicanos, nas eleições de anteontem, reforçou a perspectiva de que seja aprovado novo corte de impostos. A eficácia para estimular o consumo desse
corte, que beneficiaria sobretudo os
mais ricos, é questionável. Mas essa
crítica tende a ser ignorada nesta
conjuntura muito favorável a Bush.
As autoridades dos EUA estão mobilizando até o limite os instrumentos expansionistas que têm à mão.
Tanta audácia também traz riscos. O
principal é o de fragilizar o dólar.
Uma queda abrupta do dólar ante o
euro vem sendo inibida pela estagnação da Europa. Mas, como o déficit
externo dos EUA continua muito alto
e seu déficit público pode aumentar
ainda mais, o perigo de uma queda
do dólar continua presente.
Em outras circunstâncias, a baixa
agressiva dos juros nos EUA estimularia fluxos de capital para países que
oferecem maior retorno, como o
Brasil. Porém a aversão ao risco,
muito alta, vem gerando um "empoçamento" da liquidez internacional
nos países ricos. Se os estímulos ao
consumo nos EUA forem eficazes
para impulsionar a economia, a aversão global ao risco poderá refluir.
Mas levará algum tempo.
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