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CARLOS HEITOR CONY
A cigana que nos engana
RIO DE JANEIRO - Não me lembro
se foi Renan ou Carlyle que comparou o progresso a um tipo de charlatão que nos deslumbra com as possibilidades de tudo conseguirmos,
de tudo podermos. Uma cartomante de arrabalde, que toma nossa
mão e nela vê a viagem que faremos, a fortuna que conquistaremos, o amor que nos fará felizes.
A informática é uma espécie de
cigana mais ou menos honesta,
programada para acertar sempre.
Mesmo assim, quando ela tem falhas -e sempre as tem- provoca
um tsunami em nossa ingênua
credulidade.
As constantes invasões de diversos vírus revelam que o computador, nosso maior aliado, pode substituir com vantagem aqueles mordomos que, em caso de crime, são
sempre culpados.
Frágil amontoado de silícios e
pequenas conexões, que nada mais
são do que borrões de chumbo, a
eletrônica, que é tão poderosa em
armazenamento e comunicação,
revela-se frágil de caráter. Torna-se
onipotente e onisciente, porque os
homens, que a criaram e a abastecem de dados, são cúmplices dela.
Numa universidade de não sei
onde, perguntaram a um computador poderosíssimo, de ultimíssima
geração, se Deus existe.
O computador pediu que fosse ligado a todos os computadores existentes no mundo, no ar, na terra e
no fundo dos mares. Feita a colossal conexão, entrando todos online
com o mesmo sistema, a pergunta
foi renovada. "Deus existe?". "Agora existe", foi a resposta.
A última eleição que tivemos foi
monitorada pela internet, os candidatos, e seus seguidores, dela se
aproveitaram e dela tinham medo.
O que rolou de baixaria, cafajestagem, calúnias, textos apócrifos,
não foi mole. Infelizmente, o resultado de tudo não ficou no mundo
virtual, mas no mundo real.
Deus faria melhor se realmente
existisse. A internet existe e nem
sempre faz o melhor.
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