São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TENDÊNCIAS/DEBATES

Perspectivas para a Sinfônica de Heliópolis

SÍLVIO BACCARELLI


Para Heliópolis, comunidade em que apenas 0,3% dos moradores têm ensino superior, um novo panorama social está se descortinando


"From Heliopolis to the world". Essa clarinada triunfal apresentava os jovens da Sinfônica Heliópolis às exigentes plateias da Alemanha, da Holanda e da Inglaterra em sua primeira turnê musical pela Europa. Ao final de cada concerto, um outro ritual se repetia: aplausos de pé, surpresa e reconhecimento. Sucesso incontestável e absoluto.
Ufanismo inconsequente? Não. É o santo orgulho de representar, com muita dignidade e competência, a herança cultural do nosso povo além de nossas fronteiras.
É a conclusão natural de uma etapa de lutas por um ideal sonhado há muitos anos, atingido galhardamente por mestres e alunos do Instituto Baccarelli. É o momento de colher e saborear o fruto sazonado de longos anos de um cultivo apaixonado, que ganhou reconhecimento de grandes empresas que hoje nos apoiam.
Com essa turnê, decididamente um marco em nossa história, novos caminhos se abrem para a Sinfônica Heliópolis.
As experiências dessa primeira viagem internacional fomentam no coração dos alunos uma esperança real -a construção de uma identidade, de um sentimento coletivo de orgulho, de protagonismo, de "fazer parte" de algo especial.
É com alegria que celebro essa conquista. E outras, como a parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que desde o último dia 13 traz cerca de mil alunos de seis escolas da região de Heliópolis à nossa casa, para que sejam iniciados no ensino musical.
Uma ação pioneira, que antecipa o ensino de música obrigatório em todo o país a partir de 2011. Mais do que isso: uma iniciativa da sociedade civil reconhecida pelo poder público. A casa está cheia e essas crianças agora descobrem um novo mundo.
"Mundo" que se expande, aliás. Neste mês, será inaugurada a segunda etapa da obra de nossa nova sede. São quatro novas salas de ensaio de grandes dimensões, uma sala de percussão com projeto exclusivo e acústica diferenciada das demais e sete camarins, entre outros espaços, para que o ensino de música seja de excelência.
É por isso que, cada vez mais, Heliópolis é vista como polo de crescimento sociocultural. Hoje, fazemos parte de complexo de 50 mil m2, que compreende órgãos do poder público municipal e estadual, uma unidade do Etec, duas escolas de ensino fundamental e médio, centro cultural com sala de cinema, galeria de arte e biblioteca comunitária com cerca de 7.000 volumes.
Para uma comunidade em que apenas 0,3% dos moradores têm ensino superior, um novo panorama social se descortina. Agregados ao Instituto Baccarelli, todos esses equipamentos se constituem em um poderoso agente transformador, propiciando oportunidades de crescimento pessoal e profissional para crianças, jovens e adultos.
Os próximos passos? Não parar de sonhar. Um teatro com capacidade para 550 pessoas, anexo ao Instituto, está em fase de captação. Queremos fazer dele um equipamento símbolo da identidade desta comunidade, que nos recebeu de braços abertos e hoje nos presenteia com tantos talentos e com almas tão grandes.


SÍLVIO BACCARELLI, 79, maestro, é fundador do Instituto Baccarelli.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Aldo Rebelo: Monteiro Lobato no tribunal literário

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.