São Paulo, Terça-feira, 07 de Dezembro de 1999


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Lanterna na popa

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Estou lendo o livro de Mario Sergio Conti, ""Notícias do Planalto". Como é muito grosso, peguei a leitura do meio para o fim, método que usei para ler ""Lanterna na Popa", do Roberto Campos, que também é grosso -mais até.
Ficamos sabendo de muita coisa do período Collor, sobretudo na sua horizontalidade. Foi essa, ao que parece, a intenção do autor. O lado vertical não ficou explícito, uma ou outra referência apenas.
O livro é de leitura obrigatória para quem se interessa não somente pelo fabrico das notícias e opiniões da mídia, mas como o poder (governo e elites econômicas) pretende e em muitos casos consegue formar ou deformar fatos e imagens.
A história não acabou. Assim como a derrubada do Muro de Berlim não foi o fim da história, a queda de Collor não foi o fim das notícias do Planalto.
Nos tempos do collorato, a massa de dinheiro e interesses que dominou as relações entre o poder e a sociedade, através da mídia, foi relativamente pequena, até mesmo insignificante. O avanço atribuído a Collor na dinheirama, que jorrou farta, ficou nos 5 milhões de dólares da Operação Uruguai, em outros tantos nas despesas pessoais e nos jardins da Casa da Dinda, num carro Elba.
No tucanato, a massa tem sido infinitamente mais pingue. Para quem não sabe, pingue é mais ou menos sinônimo de fértil. A emenda da reeleição, as privatizações das teles e da Vale do Rio Doce, a ajuda aos bancos falidos, o Projeto Sivam (lembro apenas os casos mais notórios) movimentaram muito mais interesses e dólares.
Mudaram os nomes dos ocupantes do poder. Mas o Planalto continua gerando ""notícias". Como elas foram e continuam sendo manipuladas é outra história, que um dia talvez seja contada. Será tarde. Como a lanterna na popa da famosa citação de Coleridge, iluminaremos ondas ultrapassadas.


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