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Lanterna na popa
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Estou lendo o livro
de Mario Sergio Conti, ""Notícias do
Planalto". Como é muito grosso, peguei a leitura do meio para o fim, método que usei para ler ""Lanterna na
Popa", do Roberto Campos, que também é grosso -mais até.
Ficamos sabendo de muita coisa do
período Collor, sobretudo na sua horizontalidade. Foi essa, ao que parece, a
intenção do autor. O lado vertical não
ficou explícito, uma ou outra referência apenas.
O livro é de leitura obrigatória para
quem se interessa não somente pelo
fabrico das notícias e opiniões da mídia, mas como o poder (governo e elites econômicas) pretende e em muitos
casos consegue formar ou deformar
fatos e imagens.
A história não acabou. Assim como
a derrubada do Muro de Berlim não
foi o fim da história, a queda de Collor
não foi o fim das notícias do Planalto.
Nos tempos do collorato, a massa de
dinheiro e interesses que dominou as
relações entre o poder e a sociedade,
através da mídia, foi relativamente
pequena, até mesmo insignificante. O
avanço atribuído a Collor na dinheirama, que jorrou farta, ficou nos 5 milhões de dólares da Operação Uruguai, em outros tantos nas despesas
pessoais e nos jardins da Casa da Dinda, num carro Elba.
No tucanato, a massa tem sido infinitamente mais pingue. Para quem
não sabe, pingue é mais ou menos sinônimo de fértil. A emenda da reeleição, as privatizações das teles e da Vale do Rio Doce, a ajuda aos bancos falidos, o Projeto Sivam (lembro apenas
os casos mais notórios) movimentaram muito mais interesses e dólares.
Mudaram os nomes dos ocupantes
do poder. Mas o Planalto continua gerando ""notícias". Como elas foram e
continuam sendo manipuladas é outra história, que um dia talvez seja
contada. Será tarde. Como a lanterna
na popa da famosa citação de Coleridge, iluminaremos ondas ultrapassadas.
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