São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Natal sem fome

Em breve estaremos festejando o Natal. Nesta época, nota-se o crescente empenho em ornamentar os lares, as praças e as ruas. Nas escolas preparam-se com as crianças, cantos e representações de rara beleza. O comércio aproveita para incentivar as vendas.
Neste ano, um grupo de empresários está promovendo a iluminação da avenida Paulista e das ruas do centro como sinal de concórdia e confraternização entre todos os moradores da capital.
O importante no tempo de Natal é o sentido religioso. Recordamos o crescimento de Jesus como Salvador da humanidade. Revela-nos o mistério da vida divina e a missão que Ele, Filho de Deus, recebe e assume de fazer-se homem para libertar-nos do pecado e abrir-nos à vida plena de comunhão com Deus e entre nós. Celebramos assim, à luz da fé, a deslumbrante misericórdia divina que a todos oferece a conversão do pecado, as graças necessárias para a convivência fraterna e solidária e a promessa de vida eterna e feliz.
Contemplar a cena comovente do Menino Deus nos braços da Virgem Maria e sob a proteção de José ajuda-nos a penetrar sempre mais no desígnio divino da salvação que está na raiz da dignidade de toda pessoa humana.
A liturgia do tempo do Advento coloca-nos também diante da vida gloriosa de Cristo no final dos tempos. Comemora-se assim, com gratidão, o evento histórico do nascimento de Jesus, na pobreza e na humildade, e cresce em nós a esperança de que a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte se estenda a toda a humanidade.
Há, no entanto, um outro aspecto característico da celebração do Natal que vem reforçar sempre mais a união dos discípulos com o Mestre e a prática da caridade fraterna. Trata-se da presença de Cristo no meio de nós. Ele prometeu que permaneceria conosco até o fim dos séculos (Mt 28, 20). São vários os modos de sua presença, que causa grande alegria para os discípulos: a descoberta progressiva de como o Mestre está entre nós, pela sua palavra, pelos sacramentos -especialmente pela Eucaristia- e pela doação do Espírito Santo. Pelo mistério de sua encarnação, Jesus os identifica com toda pessoa e quer que nos tratemos uns aos outros com a estima, com o respeito e com o amor que dedicamos a Ele mesmo. Quando Jesus afirma: "Tive fome e me deste de comer" (Mt 25, 40), explica de modo surpreendente que tudo o que fizermos a um dos menores de nossos irmãos e irmãs Ele considera como feito a Ele. Essa verdade, centro de nossa fé, deve transformar, aos poucos, a perfeição dos valores e a conduta dos cristãos.
Assim, o tempo do Advento e do Natal abrem perspectiva, à luz da fé, de vida solidária e fraterna. Vamos aprendendo que em cada pessoa humana está presente o próprio Cristo, que espera de nós afeto, alimento e auxílio nas necessidades.
Hoje, Jesus Cristo continua padecendo fome, frio e doença. Aguarda na prisão nossa visita e solicitude. Na angústia, espera nosso conselho e carinho. É essa visão de dignidade divina da pessoa humana que há de nos fortalecer para vencermos as clamorosas desigualdades sociais, a violência e a vingança e levarmos adiante o "Mutirão Nacional de Superação da Miséria e da Fome".
Como acontecerá o Natal sem fome? Para eliminar a fome no Brasil e no mundo, é preciso erradicar o egoísmo e ter a coragem e a coerência de amar o próximo como Cristo nos ensina.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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