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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Natal sem fome
Em breve estaremos festejando o
Natal. Nesta época, nota-se o crescente empenho em ornamentar os lares, as praças e as ruas. Nas escolas
preparam-se com as crianças, cantos e
representações de rara beleza. O comércio aproveita para incentivar as
vendas.
Neste ano, um grupo de empresários está promovendo a iluminação da
avenida Paulista e das ruas do centro
como sinal de concórdia e confraternização entre todos os moradores da
capital.
O importante no tempo de Natal é o
sentido religioso. Recordamos o crescimento de Jesus como Salvador da
humanidade. Revela-nos o mistério
da vida divina e a missão que Ele, Filho de Deus, recebe e assume de fazer-se homem para libertar-nos do pecado e abrir-nos à vida plena de comunhão com Deus e entre nós. Celebramos assim, à luz da fé, a deslumbrante
misericórdia divina que a todos oferece a conversão do pecado, as graças
necessárias para a convivência fraterna e solidária e a promessa de vida
eterna e feliz.
Contemplar a cena comovente do
Menino Deus nos braços da Virgem
Maria e sob a proteção de José ajuda-nos a penetrar sempre mais no desígnio divino da salvação que está na raiz
da dignidade de toda pessoa humana.
A liturgia do tempo do Advento coloca-nos também diante da vida gloriosa de Cristo no final dos tempos.
Comemora-se assim, com gratidão, o
evento histórico do nascimento de Jesus, na pobreza e na humildade, e
cresce em nós a esperança de que a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte se estenda a toda a humanidade.
Há, no entanto, um outro aspecto
característico da celebração do Natal
que vem reforçar sempre mais a união
dos discípulos com o Mestre e a prática da caridade fraterna. Trata-se da
presença de Cristo no meio de nós. Ele
prometeu que permaneceria conosco
até o fim dos séculos (Mt 28, 20). São
vários os modos de sua presença, que
causa grande alegria para os discípulos: a descoberta progressiva de como
o Mestre está entre nós, pela sua palavra, pelos sacramentos -especialmente pela Eucaristia- e pela doação
do Espírito Santo. Pelo mistério de sua
encarnação, Jesus os identifica com
toda pessoa e quer que nos tratemos
uns aos outros com a estima, com o
respeito e com o amor que dedicamos
a Ele mesmo. Quando Jesus afirma:
"Tive fome e me deste de comer" (Mt
25, 40), explica de modo surpreendente que tudo o que fizermos a um dos
menores de nossos irmãos e irmãs Ele
considera como feito a Ele. Essa verdade, centro de nossa fé, deve transformar, aos poucos, a perfeição dos
valores e a conduta dos cristãos.
Assim, o tempo do Advento e do
Natal abrem perspectiva, à luz da fé,
de vida solidária e fraterna. Vamos
aprendendo que em cada pessoa humana está presente o próprio Cristo,
que espera de nós afeto, alimento e auxílio nas necessidades.
Hoje, Jesus Cristo continua padecendo fome, frio e doença. Aguarda na
prisão nossa visita e solicitude. Na angústia, espera nosso conselho e carinho. É essa visão de dignidade divina
da pessoa humana que há de nos fortalecer para vencermos as clamorosas
desigualdades sociais, a violência e a
vingança e levarmos adiante o "Mutirão Nacional de Superação da Miséria
e da Fome".
Como acontecerá o Natal sem fome?
Para eliminar a fome no Brasil e no
mundo, é preciso erradicar o egoísmo
e ter a coragem e a coerência de amar
o próximo como Cristo nos ensina.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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