|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O provisório pode matar
SÃO PAULO -
Suspeito que o cientista
político Fábio Wanderley Reis, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), expressou um
sentimento muito difundido entre os
brasileiros que não são nem petistas
nem antipetistas militantes em entrevista a esta Folha.
Ao falar sobre a dificuldade de encontrar uma alternativa para a política econômica herdada do governo
anterior, disse:
"Espero que o PT tenha criatividade, inventividade, para dar resposta
ao desafio que está posto à frente".
Um mês de governo é pouco tempo,
obviamente, para que a criatividade
e a inventividade petistas pudessem
desabrochar plenamente.
Por aí, portanto, nada a criticar. O
diabo é que a manutenção pura e
simples da política anterior pode
criar uma armadilha difícil ou até
impossível de romper mais adiante,
se e quando criatividade e inventividade se manifestarem.
Tome-se o caso do superávit fiscal
(a diferença entre receitas e despesas
do governo, excluídos os juros). O
percentual acertado pelo governo
Fernando Henrique com o Fundo
Monetário Internacional já foi altíssimo (3,75% do PIB).
O resultado real foi ainda mais elevado (pouco acima de 4%). Mas o
PT, deixando que o medo dos mercados vencesse a esperança dos eleitores
em mudanças mais imediatas, anunciou ontem o "pai de todos os superávits" (4,25% do PIB).
Dizem que é provisório, para evitar
um sinal de mudanças ao qual o
mercado reagiria muito mal. Muito
bem. Que reação terão os mercados
se, para o ano que vem, o governo Lula anunciar que o superávit será menor, mesmo que seja para voltar ao
patamar de 3,75%?
A crença em que, entupindo de carne os leões do mercado, eles seriam
condescendentes transformou FHC
em mero gerente da crise durante o
seu segundo mandato.
Texto Anterior: Editoriais: EXCEÇÃO PERMANENTE Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Quem vai pedir CPI? Índice
|