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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O provisório pode matar

SÃO PAULO - Suspeito que o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), expressou um sentimento muito difundido entre os brasileiros que não são nem petistas nem antipetistas militantes em entrevista a esta Folha.
Ao falar sobre a dificuldade de encontrar uma alternativa para a política econômica herdada do governo anterior, disse:
"Espero que o PT tenha criatividade, inventividade, para dar resposta ao desafio que está posto à frente".
Um mês de governo é pouco tempo, obviamente, para que a criatividade e a inventividade petistas pudessem desabrochar plenamente.
Por aí, portanto, nada a criticar. O diabo é que a manutenção pura e simples da política anterior pode criar uma armadilha difícil ou até impossível de romper mais adiante, se e quando criatividade e inventividade se manifestarem.
Tome-se o caso do superávit fiscal (a diferença entre receitas e despesas do governo, excluídos os juros). O percentual acertado pelo governo Fernando Henrique com o Fundo Monetário Internacional já foi altíssimo (3,75% do PIB).
O resultado real foi ainda mais elevado (pouco acima de 4%). Mas o PT, deixando que o medo dos mercados vencesse a esperança dos eleitores em mudanças mais imediatas, anunciou ontem o "pai de todos os superávits" (4,25% do PIB).
Dizem que é provisório, para evitar um sinal de mudanças ao qual o mercado reagiria muito mal. Muito bem. Que reação terão os mercados se, para o ano que vem, o governo Lula anunciar que o superávit será menor, mesmo que seja para voltar ao patamar de 3,75%?
A crença em que, entupindo de carne os leões do mercado, eles seriam condescendentes transformou FHC em mero gerente da crise durante o seu segundo mandato.


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