São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Absenteísmo
MARIA ELIZABETH MALAGOLI
As legislações e definições são diferentes nos diferentes países. No Brasil, entende-se por absenteísmo de curta duração a ausência do trabalho por até 15 dias. A informatização do sistema de saúde permitiu a esses países não só computar a ausência ao trabalho e suas diferentes implicações mas também comparar o nível de ausência nos diferentes setores da economia, conforme o porte da empresa, a correlação da atividade exercida pelo trabalhador e as patologias encontradas, a correlação do gênero e da idade e determinadas morbidades. Esses dados permitiram a formulação de diferentes programas de gerenciamento de saúde. O objetivo principal é a prevenção das doenças e a diminuição da carga financeira para as empresas e para as assistências médicas. Algumas companhias conseguiram uma diminuição significativa de seus índices de absenteísmo, chegando a uma redução de 20% a 45%, como, por exemplo, na General Eletric, Dupont e outras. Análises de custo-benefício demonstraram que, para cada US$ 1,00 investido nos programas adotados, economizaram-se aproximadamente US$ 5,00. Para esses países, considera-se hoje que alcançaram um índice de absenteísmo "aceitável" (na Alemanha, em 2002, de 4%; no Reino Unido, em 2002, de 3,9%; e nos EUA, em 2000, de 3,8%) se comparados aos índices de anos anteriores. Os índices internacionais giram em torno de 5% (Holanda) e 2,5% (Hong Kong), sendo a permissividade das relações de trabalho nos diferentes países o fator preponderante nas diferenças encontradas. Embora os índices de absenteísmo apresentem declínio considerável nos últimos 20 anos, inicia-se uma crescente participação das doenças psíquicas. Segundo estudos, esse fato pode estar relacionado com as mudanças econômicas acontecidas nos últimos anos em decorrência da globalização (maior pressão no trabalho, aumento do nível de estresse, medo do desemprego, entre outros). No Brasil, só 7% das instituições de saúde possuem um nível satisfatório de informatização (segundo dados da Opas), o que impossibilita conhecer a real situação do absenteísmo, inviabilizando a criação de programas preventivos que atendam à real demanda da população. Outro fato relevante neste contexto é o estudo publicado pela Organização Pan-Americana de Saúde, que estima que mais de 70% das empresas apresentam condições ergonômicas desfavoráveis para as tarefas solicitadas, sugerindo que a correlação do índice de absenteísmo por doenças relacionadas à atividade pode ser bem superior ao estimado pela OIT, de 30%. Inexistem levantamentos sobre os custos gerados pelo absenteísmo no país, indicador este de extrema relevância para subsidiar a fundamentação necessária para aplicação de recursos voltados para a saúde dentro das empresas. A despeito de raríssimas exceções (algumas grandes multinacionais), as empresas brasileiras, por diferentes motivos, não gerenciam estas questões; lamentando-se por vezes de seus "altos" números de atestados médicos, sugerindo ou um mau uso por parte do funcionário ou uma certa benevolência médica. Maria Elizabeth Malagoli, 49, médica, é especialista em medicina do trabalho. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Frei Beto: Meu Carnaval Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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