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EMÍLIO ODEBRECHT
Sobre o pré-sal
O PAÍS QUE descobre um recurso natural valioso em
seu território deve, é claro,
alegrar-se. Mas convém que o povo
desta nação trace estratégias para
que tal sentimento perdure por
mais tempo do que as jazidas que o
geraram.
Digo isso tendo em mente as
boas novas que nos foram trazidas
no ano passado pela Petrobras,
quando da descoberta de petróleo
na chamada camada pré-sal na plataforma submarina do Brasil. Trata-se de imensa riqueza. O que faremos a partir dela é uma questão
que se impõe, mas disso tratarei
em outro artigo.
Antes, vale observar que a exploração deste óleo será tarefa desafiadora. Tomando como exemplo o
campo de Tupi, a crosta de sal, sob
a qual o petróleo se encontra, tem
perto de 2.000 metros de espessura. Da superfície do sal até a superfície do mar são mais 5.000 metros
(3.000 metros de areia e rocha e
mais 2.000 metros de lâmina d'água). Será possível retirá-lo a 7 km
de profundidade? Sim. Mas é neste
ponto que escolhas fundamentais
devem ser feitas por nosso país.
Ouso dizer que tão relevante
quanto a riqueza que será gerada
pelo pré-sal é a infraestrutura que
podemos construir no Brasil para
explorá-la.
Serão necessários sondas de perfuração sofisticadas, novas e maiores plataformas de produção e, sobretudo, trabalhadores altamente
especializados. Tudo isso leva tempo e exige dinheiro para ser conseguido, mas é factível.
Se optarmos por construir, nós
mesmos, tal capital físico, humano
e financeiro, com a utilização da
poupança dos brasileiros, ao final
do processo nossa economia terá
dado um salto em porte e em qualidade. Teremos subido de patamar,
de forma definitiva, no ranking de
riqueza tangível e intangível das
nações.
Foi o que fez a Noruega, tão citada desde que o assunto pré-sal veio
à baila. Aquele país, quando foram
descobertos os campos do mar do
Norte, optou por erguer um parque
industrial próprio para a extração e
o refino do óleo. Hoje, ninguém
afirma que a Noruega é uma nação
"rica em petróleo"; todos dizem
que se trata de uma nação rica,
ponto. Não há necessidade de complementos.
Sigamos tal exemplo. Debater o
que faremos com o dinheiro gerado
pelo óleo do pré-sal é indispensável, mas antes podemos e temos
que fazer da tarefa de criar as condições necessárias à sua exploração econômica uma oportunidade
para promover o nosso desenvolvimento.
Mostremo-nos à altura do que a
natureza nos presenteou, articulando uma aliança entre governo,
iniciativa privada e sociedade para
que a promessa de riqueza se torne
realidade e já.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve nesta coluna três domingos por mês.
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