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Incerteza europeia
Crise cobra seu preço em países da periferia da UE; arcabouço institucional da região impõe medidas com alto custo político
OS MERCADOS financeiros globais vêm sendo
sacudidos por uma nova onda de choque, derivada das incertezas sobre a capacidade de países da União Europeia de pagar suas crescentes
dívidas públicas. O foco do momento é a Grécia, mas Portugal e
Espanha podem ser os próximos
a enfrentar maior dificuldade.
A montanha de dívida pública
é o principal legado da crise financeira, especialmente no
mundo desenvolvido. Os pacotes
de estímulo fiscal, os custos de
resgate dos bancos e o colapso da
arrecadação de impostos são os
fatores mais importantes por
trás dessa dinâmica perversa.
O brutal aumento da dívida dos
governos dos países ricos esperado para os próximos anos demandará um grande esforço de
estabilização. Este é um dos
principais riscos para a continuidade da recuperação global.
Nos EUA e no Reino Unido, a
dificuldade principal é compatibilizar a saída da recessão com a
necessidade de apertar o orçamento. O crescimento da economia poderá ser menor nos próximos anos. É possível que os mercados cobrem mais caro para rolar suas dívidas, mas um cenário
de insolvência é improvável.
Os maiores problemas estão na
periferia da comunidade europeia. Refletem a dificuldade de
uma união monetária sem uma
correspondente integração fiscal
e do mercado de trabalho.
Na Espanha houve um surto de
construção civil, financiado por
capitais externos nos últimos
anos. A inflação de preços e salários foi maior que no resto da comunidade e o país perdeu competitividade. O crescimento do
desemprego após a crise -para
nível próximo a 20%- decorre
em parte destes desequilíbrios.
Por fim, a recessão jogou o orçamento público no vermelho,
onde antes havia superavit. Já a
Grécia é o caso mais dramático.
Padece de problemas similares
aos da Espanha, mas agravados
pela frouxidão no orçamento nos
anos que antecederam a crise. A
relação dívida/PIB atingirá
120% em 2010. De todos, é o país
mais perto da insolvência.
Desvalorizar a moeda nacional, se houvesse uma, seria uma
alternativa para combater a recessão. Se o mercado de trabalho
fosse de fato integrado ao do continente, a perda de competitividade seria menor. E se houvesse
uma autoridade fiscal centralizada, o sofrimento do desemprego
poderia ser minorado por maior
ajuda do governo central -neste
caso, de Bruxelas.
Mas nenhuma destas possibilidades está disponível para quem
adotou o euro. A ajuda da comunidade é condicional: os países
mais frágeis serão compelidos a
realizar um draconiano regime
de austeridade, visando estabilizar a dívida. O resultado será recessivo, com consequências políticas potencialmente explosivas.
Os mercados sabem disso e já
aplicam pressão no elo mais fraco. O dilema da UE é complexo.
Pode resgatar a Grécia, pois o
país é pequeno em relação ao todo. Mas estará abrindo um precedente que pode minar a credibilidade do euro. Se impuser um
ajuste duro demais, condenará o
país a uma longa e dura recessão.
E, mesmo assim, com o risco de
ruptura no meio do caminho.
O drama parece estar apenas
no começo.
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