São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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NOTA INFELIZ

É saudável o fato de o Partido dos Trabalhadores estar preocupado em preservar o que resta de seu "capital ético e político", como revela nota da agremiação govenista emitida na sexta-feira. Pretender, no entanto, que a dilapidação desse patrimônio deve-se a uma campanha sistemática, orquestrada por setores da oposição e da mídia, é uma tentativa primária da direção petista de eximir seus correligionários dos ônus e das responsabilidades de quem governa.
Não é necessário ensinar os militantes do PT que cabe à oposição contrapor-se à situação. Essa é uma atividade para a qual o partido sempre demonstrou notável aptidão. Capaz, como poucos, de instrumentalizar ações de movimentos sociais e orquestrá-las com suas estratégias parlamentares, a militância petista freqüentemente levou ao paroxismo as pressões sobre os governos que enfrentava.
Seu rico repertório oposicionista, como o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admitiu, não dispensava nem mesmo o recurso da "bravata" na pregação de medidas extremadas, como o rompimento com o Fundo Monetário Internacional e a moratória da dívida pública.
Tampouco deixaram os luminares do partido de se valer da pluralidade de opiniões que a mídia expressa para expor seus então contundentes pontos de vista -hoje cada vez mais diluídos pelo exercício convencional do poder. Não deixa de ser inquietante que a legenda do governo, cujo ímpeto para "aparelhar" estruturas públicas causa apreensão, volte-se contra a mídia justamente no momento em que ela desempenha seu trabalho fiscalizador e investigativo, publicando fatos -como os do caso Waldomiro Diniz- e estimulando o debate nacional.
Seria mais proveitoso se o PT, em vez de procurar bodes expiatórios, procedesse a uma reflexão interna com vistas a entender as razões que têm levado o governo a sofrer seguidos desgastes em áreas tão distintas quanto a política ambiental e o combate à fome.



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