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ECONOMIA DA SAÚDE
Não há como deixar de dar razão aos médicos na queda-de-braço entre os ministérios da Saúde e
da Agricultura a propósito da Estratégia Global de Alimentação Saudável elaborada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Trata-se de
um documento que vem sendo elaborado cuidadosamente desde 2002.
O Brasil dava todos os sinais de que
apoiaria a iniciativa. Em janeiro, o
Ministério da Saúde convidou associações médicas brasileiras que o auxiliaram na redação de um documento de apoio à Estratégia. Foi com
surpresa que os médicos receberam
a notícia de que o texto entregue pelo
governo brasileiro à OMS é contrário
à iniciativa. Ao que tudo indica,
triunfou o lobby do Ministério da
Agricultura, mais especificamente o
dos produtores de açúcar, cujo consumo é condenado pela Estratégia.
A OMS afirma que a má alimentação é responsável por grande parte
das doenças crônicas não-transmissíveis, como problemas cardiovasculares, cânceres do aparelho digestivo
e diabetes tipo 2. Para combater esses males, a instituição recomenda
maior taxação dos alimentos não-saudáveis e que seja adotada uma
dieta com, no máximo, 10% de energia proveniente de açúcar. No Brasil,
esse índice é de 19%.
O governo escolheu a prioridade
errada. A saúde pública deve vir antes
dos interesses econômicos de um
determinado setor. É verdade que
não existem provas sólidas de que o
açúcar faça mais mal à saúde do que
outros carboidratos. Sabe-se, porém, que ele é um produto altamente
calórico e que o corpo armazena sobras de energia na forma de gordura.
Esta, em excesso, causa doenças.
É evidente que cada um é livre para
alimentar-se como desejar e para decidir se vai ou não se exercitar. Mas é
certo que o Estado deve, sem incorrer
em autoritarismos, procurar induzir
à melhor alimentação possível, utilizando-se para tanto de programas
informativos e até de instrumentos
fiscais. No final, é o poder público
quem arca com os ônus das múltiplas internações dos que escolheram
a vida menos saudável.
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