São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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ECONOMIA DA SAÚDE

Não há como deixar de dar razão aos médicos na queda-de-braço entre os ministérios da Saúde e da Agricultura a propósito da Estratégia Global de Alimentação Saudável elaborada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Trata-se de um documento que vem sendo elaborado cuidadosamente desde 2002.
O Brasil dava todos os sinais de que apoiaria a iniciativa. Em janeiro, o Ministério da Saúde convidou associações médicas brasileiras que o auxiliaram na redação de um documento de apoio à Estratégia. Foi com surpresa que os médicos receberam a notícia de que o texto entregue pelo governo brasileiro à OMS é contrário à iniciativa. Ao que tudo indica, triunfou o lobby do Ministério da Agricultura, mais especificamente o dos produtores de açúcar, cujo consumo é condenado pela Estratégia.
A OMS afirma que a má alimentação é responsável por grande parte das doenças crônicas não-transmissíveis, como problemas cardiovasculares, cânceres do aparelho digestivo e diabetes tipo 2. Para combater esses males, a instituição recomenda maior taxação dos alimentos não-saudáveis e que seja adotada uma dieta com, no máximo, 10% de energia proveniente de açúcar. No Brasil, esse índice é de 19%.
O governo escolheu a prioridade errada. A saúde pública deve vir antes dos interesses econômicos de um determinado setor. É verdade que não existem provas sólidas de que o açúcar faça mais mal à saúde do que outros carboidratos. Sabe-se, porém, que ele é um produto altamente calórico e que o corpo armazena sobras de energia na forma de gordura. Esta, em excesso, causa doenças.
É evidente que cada um é livre para alimentar-se como desejar e para decidir se vai ou não se exercitar. Mas é certo que o Estado deve, sem incorrer em autoritarismos, procurar induzir à melhor alimentação possível, utilizando-se para tanto de programas informativos e até de instrumentos fiscais. No final, é o poder público quem arca com os ônus das múltiplas internações dos que escolheram a vida menos saudável.



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