São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

A CPI e suas razões

BRASÍLIA - A CPI dos Bingos foi para a cucuia. Ainda assim, cabe refletir sobre a razão de esse tipo de investigação ser tão adorado pelos brasileiros. Basta haver um escândalo que a população se declara a favor de uma CPI. Segundo o Datafolha, 81% dos brasileiros querem uma CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz.
A popularidade das CPIs ocorre, entre dezenas de fatores, por causa de uma combinação de fragilidade institucional, falta de impessoalidade no governo e incapacidade do Poder Judiciário de oferecer respostas rápidas quando é solicitado.
No caso das instituições, diferentemente do que somos obrigados a ouvir à náusea a respeito da sua suposta solidez, a tibieza é enorme. O presidente da República tinha no andar de cima de sua sala um traficante dos bingos. Ministros não mandam. Juízes demoram décadas para julgar. Congressistas agem movidos a cargos, verbas e coisas piores.
No Palácio do Planalto continuam a entrar os amigos. É um escárnio que dirigentes petistas usem as dependências da Presidência da República para traficar verbas e cargos para as suas bases políticas. Grassa a falta de impessoalidade.
O Poder Judiciário está dilapidado. Falta vontade de parte dos magistrados para modernizar sua estrutura. Sobra incapacidade dos outros dois Poderes, Legislativo e Executivo, para coordenar uma reforma que seja a favor, e não contra a Justiça.
Esse ambiente de terra arrasada produz uma distorção. Na percepção popular, "só CPI resolve". Não é uma noção de todo errada. A medida extrema de levar uma investigação político-policial para o Congresso é, de fato, a única capaz de garantir celeridade na apuração de um crime.
É justo registrar que esse quadro de desgraça institucional não é invenção do PT. Os petistas apenas nada fizeram para alterar a realidade. Pelo contrário, não há uma alma com poder dentro do governo pensando em como fortalecer as instituições. É muito mais fácil abafar CPIs.



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