|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
A CPI e suas razões
BRASÍLIA - A CPI dos Bingos foi para a cucuia. Ainda assim, cabe refletir
sobre a razão de esse tipo de investigação ser tão adorado pelos brasileiros. Basta haver um escândalo que a
população se declara a favor de uma
CPI. Segundo o Datafolha, 81% dos
brasileiros querem uma CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz.
A popularidade das CPIs ocorre,
entre dezenas de fatores, por causa de
uma combinação de fragilidade institucional, falta de impessoalidade
no governo e incapacidade do Poder
Judiciário de oferecer respostas rápidas quando é solicitado.
No caso das instituições, diferentemente do que somos obrigados a ouvir à náusea a respeito da sua suposta
solidez, a tibieza é enorme. O presidente da República tinha no andar
de cima de sua sala um traficante dos
bingos. Ministros não mandam. Juízes demoram décadas para julgar.
Congressistas agem movidos a cargos, verbas e coisas piores.
No Palácio do Planalto continuam
a entrar os amigos. É um escárnio
que dirigentes petistas usem as dependências da Presidência da República para traficar verbas e cargos para as suas bases políticas. Grassa a
falta de impessoalidade.
O Poder Judiciário está dilapidado.
Falta vontade de parte dos magistrados para modernizar sua estrutura.
Sobra incapacidade dos outros dois
Poderes, Legislativo e Executivo, para
coordenar uma reforma que seja a
favor, e não contra a Justiça.
Esse ambiente de terra arrasada
produz uma distorção. Na percepção
popular, "só CPI resolve". Não é uma
noção de todo errada. A medida extrema de levar uma investigação político-policial para o Congresso é, de
fato, a única capaz de garantir celeridade na apuração de um crime.
É justo registrar que esse quadro de
desgraça institucional não é invenção do PT. Os petistas apenas nada
fizeram para alterar a realidade. Pelo
contrário, não há uma alma com poder dentro do governo pensando em
como fortalecer as instituições. É
muito mais fácil abafar CPIs.
Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: O circo pós-moderno do PT Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Profundamente Índice
|