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RUY CASTRO
Guerreiros e zuzus
RIO DE JANEIRO - O que é mais
"imoral" na TV? A socialite Paris
Hilton se esfregando numa garrafa
de cerveja ou o treinador da seleção
brasileira, Dunga, batendo no peito
e se dizendo "brahmeiro"? A meu
ver, Dunga. Mas Paris Hilton é que
foi censurada.
Você dirá que, no comercial,
Dunga não fala brahmeiro, e sim
guerreiro. Mas, passados os tambores representando a batida no peito,
ouve-se o locutor dizendo brahmeiro. A associação é clara: Dunga é
guerreiro porque é brahmeiro. É
mais claro do que imaginar que Paris Hilton esteja cometendo sexo.
Aliás, ela não parece mais devassa
do que tantas modelos brasileiras
em outros comerciais, inclusive de
iogurte.
Não sei se o comercial de Paris
Hilton, antes de ser evaporado, era
exibido durante o dia. Mas o de
Dunga passa a toda hora entre desenhos animados e jogos de futebol,
ao alcance de criancinhas mamíferas, garantindo os bebuns de amanhã. De novo as companhias de cerveja impõem a ideia de que cerveja
não é bebida alcoólica, embora o
próprio Ministério da Saúde acuse
que nossos garotos começam a bebê-la cada vez mais cedo e já existam casos frequentes de alcoolismo
aos 12 anos.
O Brasil, um dos países mais permissivos do mundo, não se deixaria
abalar pela lascívia de uma perua
estrangeira, tendo abundante oferta de matéria-prima nacional. Mas
a ligeireza com que se tratam questões de saúde pública vive nos apresentando a conta. A escalada do
crack, por exemplo, foi prevista há
15 anos e passou em branco por vários ministros da Saúde, alguns dos
quais concentrados em sua ideia fixa de perseguir tabagistas.
Quero ver se Dunga continuará
tão satisfeito de ser "brahmeiro" se,
na Copa, algum jogador se exceder
num dia de folga e voltar zuzu para
a concentração, batendo no peito e
se dizendo "guerreiro".
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