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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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TENTAÇÃO REAL

Poucos são os governos que conseguem resistir às tentações suscitadas por um ciclo de valorização da moeda nacional. O aumento do poder internacional de compra da moeda local tende a domar mais rapidamente pressões inflacionárias internas e a fazer com que cresça o poder de consumo da economia como um todo, o que sempre rende dividendos para os governantes de turno.
A partir de certo limite, porém, o incentivo a consumir e a endividar-se em dólares pode minar a capacidade futura de pagamento dos atores econômicos domésticos. O caráter traiçoeiro do "efeito-riqueza" cambial foi dramaticamente demonstrado no Brasil a partir de janeiro de 99, quando desmoronou a política que por anos manteve o real supervalorizado.
É por isso, e não apenas pelo óbvio interesse dos setores exportadores nessa matéria, que a discussão acerca da sustentabilidade do movimento ora verificado de revalorização do real não deveria ser desprezada. Decerto alguns termos em que essa discussão é hoje travada diferem da experiência recente. O regime de câmbio é flutuante, e uma relevante descompressão no déficit externo foi obtida via superávit comercial, à custa do crescimento econômico.
Mas câmbio flutuante, no caso do Brasil, não deveria justificar a passividade das autoridades diante de oscilações excessivas na cotação do real.
O dogma de que o BC não deve intervir jamais no mercado de divisas não prevaleceu no ciclo mais recente de brusca desvalorização do real, quando o banco atuou diretamente para tentar conter a disparada do dólar. Tampouco deveria imperar se e quando a valorização do real ameaçar a continuidade do investimento em atividades vitais como a exportação e a substituição de importações. Nesse momento, a dar ensejo à redução mais rápida da inflação e a um novo surto artificial de consumo será preferível baixar os juros e/ou intervir no câmbio para recompor as reservas internacionais do BC.


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