São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O governo federal e as mudanças climáticas
JOSÉ GOLDEMBERG
Essa neutralidade do MCT se mostrou inestimável, porque conseguiu o apoio dos cientistas das nossas universidades que participaram ativamente dos trabalhos preparatórios das conferências internacionais sobre o clima. Quando foi criada a Comissão Interministerial sobre Mudanças Climáticas, coube ao MCT presidi-la e sediar a Secretaria Executiva da Comissão. É importante que não se perca a experiência adquirida pelo MCT nessa área, apesar de ela não parecer importante e urgente ao governo que se inicia agora. O processo iniciado com a Conferência do Rio, em 1992, ainda não se encerrou e poderá trazer grandes benefícios ao país não só porque abre uma porta adicional para a transferência de tecnologia, como porque o Brasil pode atrair investimentos "verdes" que redundem em créditos de carbono para os países da Europa e eventualmente os EUA, quando aderirem ao Protocolo de Kyoto. A Conferência de Johannesburgo poderá também ter importantes desenvolvimentos ainda neste ano, mas sobretudo no início de 2004, quando deverá se realizar uma grande conferência sobre energias renováveis, proposta pelo primeiro-ministro Schröeder durante a conferência na África do Sul. A participação nessa conferência poderá ser importante porque o Brasil é um exemplo mundial de país em via de desenvolvimento no qual mais de 40% da energia usada é renovável, isto é, não-poluente. A defesa dos interesses do Brasil na área de mudança do clima terá um efeito profundo sobre as questões de fome, pobreza e desenvolvimento social e econômico, num prazo de poucos anos, na medida em que toda a economia do mundo está em processo de mudança acelerada para se ajustar a restrições à emissão de carbono. A liderança dessa participação caberá ao Itamaraty, mas, para que ele se desempenhe bem, é essencial que outros ministérios o apóiem, como ocorreu até agora. Não é essencial que este seja o da Ciência e Tecnologia, mas o que é essencial é que se preserve a equipe que conduziu esses trabalhos e que constitui a memória viva do que se fez no Brasil nessa área. José Goldemberg, 74, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, primeiro ocupante da cátedra Joaquim Nabuco na Universidade Stanford (EUA), é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Foi reitor da USP (1986-89), secretário da Ciência e Tecnologia e ministro da Educação (governo Collor). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Carlos Henrique de Brito Cruz: A gestão estratégica do conhecimento Índice |
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