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Eleito para mudar
Eleito, Nicolas Sarkozy fala em modernizar país; resta saber se franceses vão aceitar as reformas necessárias
NICOLAS SARKOZY, o candidato conservador à
Presidência da França, obteve uma clara
vitória nas urnas. Por 53% a 47%,
ele derrotou a postulante do Partido Socialista, Ségolène Royal. A
agremiação amarga assim sua
terceira derrota consecutiva nas
presidenciais. A diferença de seis
pontos percentuais, entretanto,
mostra que a França continua
um país profundamente dividido
entre esquerda e direita.
Com Sarkozy, sopram ventos
de mudança. É verdade que o advogado filho de imigrantes de
origem húngara e judaica era o
candidato da situação -até a
campanha ele ocupava o posto
de ministro do Interior. Também é fato que, qualquer que fosse o desfecho do segundo turno,
a eleição de um novo presidente
representaria uma mudança de
geração, pois Sarkozy, assim como Royal na casa dos 50 e poucos
anos, substitui no centro do poder a safra de políticos com mais
de 70 anos, como o atual presidente, Jacques Chirac.
A incógnita é se essas mudanças serão para valer ou se não
passam de ruídos midiáticos
produzidos pela campanha. Não
há razão para duvidar da sinceridade de Sarkozy quando ele afirma que deseja modernizar a
França. Querer, entretanto, nem
sempre é poder, nem mesmo para um político hiperativo e extremamente ambicioso como o presidente eleito.
Parte do problema é que um
bom número de franceses -inclusive eleitores de Sarkozy- é
contra alterações no generoso
sistema de benefícios sociais. Para não espantar um enorme contingente de potenciais apoiadores, as propostas do candidato
conservador foram mais tímidas
do que seria necessário.
Para o salário-desemprego,
por exemplo, ele não foi muito
além de defender cortes nos benefícios dos que recusarem vários empregos. No que concerne
às aposentadorias, pretende apenas eliminar um bônus de três
anos no tempo de contribuição
concedido aos trabalhadores que
exercem funções consideradas
insalubres ou perigosas.
Suas sugestões mais ambiciosas estão no campo do contrato
de trabalho. Pretende introduzir
um mecanismo pelo qual as garantias ao trabalhador aumentam à medida em que o contrato
vai sendo cumprido.
A verdade é que, enquanto se
fala genericamente em mudança, é mais ou menos fácil obter
adesões. O difícil é mantê-las à
medida em que se detalham as
propostas e se evidenciam as
partes prejudicadas. Na campanha, tanto Sarkozy quanto Royal
optaram pela política do menor
prejuízo possível. Não poderá seguir nesse caminho na Presidência, se quiser realmente mudar.
Por ora, os franceses podem
até dar-se ao luxo de manter seu
sistema -embora já comecem a
pagar o preço na forma de desemprego e perda de competitividade. O modelo se torna insustentável é quando se o projeta
para o futuro, considerando também as rápidas mudanças no
perfil demográfico da França.
Aqui, a questão já não é ser de
direita ou de esquerda, mas sim
fazer ou não as contas. Por enquanto, franceses e cidadãos de
vários outros países europeus
têm preferido distância do lápis.
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