São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997.



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Marca do PT: a ética

O PT se defenderá e irá até as últimas consequências para que a Justiça dê a última palavra


JOSÉ DIRCEU

As principais marcas do Partido dos Trabalhadores na vida política brasileira são a ética, a transparência e a democracia. São esses os atributos que criam as condições para a solidariedade e a unidade de ação entre os petistas, além de distinguir com clareza sua posição diante dos demais partidos conservadores brasileiros.
As acusações que estão sendo feitas contra o partido agora visam justamente colocar em dúvida o fator de união dos petistas. Além dos ideais comuns programáticos, dos objetivos políticos e dos programas de governo que unem os integrantes do partido, sempre nos unificou a ética, que tem sido uma bandeira não só do PT, mas da maioria do nosso povo.
Por isso, apesar da falta de provas, da carência de indícios das acusações e da desproporção entre o caráter das denúncias e a cobertura dada pela mídia, o PT não vacilou em constituir uma comissão de averiguação, remeter o relatório, quando finalizado, ao Ministério Público, não se omitir frente às denúncias, aceitar o afastamento de Lula da direção nacional, apoiar os pedidos de CPI em municípios (desde que haja bases legais) e propor a instalação da CPI dos Corruptores, que só depende da indicação dos nomes do PSDB e do PFL, para investigar não os contratos da Cpem com as prefeituras petistas, mas sim o financiamento de campanhas eleitorais, acusação que foi também sacada contra o PT a partir das denúncias publicadas pela imprensa.
O PT mantém relações diferentes e de nova qualidade com seus governos. Já expulsamos prefeitos, porque insistimos em manter as diretrizes programáticas do partido, os objetivos do programa apresentado na campanha eleitoral, os procedimentos democráticos. Mas não tem sido -e não há provas em contrário- prática do PT confundir o partido com os governos, substituir os governos pela ação partidária.
A marca das gestões do PT tem sido o cumprimento de um programa democrático e com participação popular, por meio do orçamento participativo, da inversão de prioridades e da transparência, da ética.
Chamamos a atenção da sociedade para a gravidade do fato que o noticiário em torno das prefeituras petistas tenha ganhado a dimensão de uma verdadeira campanha para levar a sociedade a acreditar que o PT é igual aos outros partidos, que não há políticos honestos no Brasil e que todas as denúncias feitas já estão comprovadas.
O tratamento que vem sendo dado a essas denúncias, que até agora carecem de provas, só pode estar relacionado com o papel do PT na luta pela reforma agrária, na luta contra a privatização da Vale do Rio Doce, na constituição do bloco parlamentar da frente das oposições, na oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso e, principalmente, com o papel do Lula no Brasil e na sucessão presidencial de 1998.
As denúncias contra as prefeituras petistas, tratadas pela mídia como o próprio PT, têm também o objetivo de afastar a sociedade da denúncia de compra de votos, por parte do governo, para a aprovação da emenda da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. O PT continuará em sua luta para que seja instaurada uma CPI para apurar o caso.
Se é verdade que as denúncias contra o PT precisam ser apuradas, se é verdade que o partido precisa manter a isenção, não prejulgar, não desqualificar o acusador, também é verdade que o PT precisa denunciar que existe uma verdadeira guerra política contra o partido. Mas é preciso deixar claro que o PT se defenderá. É o maior interessado em esclarecer todas as denúncias e, por isso, além das medidas tomadas, irá até as últimas consequências para que a Justiça dê a última palavra.
O PT entende que esse fato encerra uma ameaça à própria democracia no Brasil. Faz desta afirmação uma advertência às forças que arquitetaram esse ataque e o estão levando para além de todos os limites. Trata-se, em suma, de uma atitude irresponsável, de quem não mede a consequência de seus atos, mas que terá que responder por eles perante o Poder Judiciário.

José Dirceu, 51, advogado, é presidente nacional do PT. Foi deputado federal pelo PT de São Paulo (1990-94).



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