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CARLOS HEITOR CONY
Sem comentário
RIO DE JANEIRO - Do noticiário da semana passada: "Levantamento feito pelo Banco Central revela que, no
primeiro trimestre deste ano, os bancos lucraram no país R$ 6,335 bilhões, valor 52% maior do que o registrado no mesmo período do ano
passado. O crescimento do lucro do
setor se explica pelo aumento dos ganhos com tarifas e com juros".
Nada contra os bancos. Eles operam, até prova em contrário, dentro
das regras do jogo estabelecido pelo
governo, via Banco Central, Ministério da Fazenda e vontade política dos
governantes. Os bancos investem capital, correm os riscos de qualquer
negócio, volta e meia um deles quebra por má administração -o que
também faz parte do jogo.
Mas temos tudo contra o governo
de um partido que desde a sua fundação, há 25 anos, esgoelou-se nas
ruas, no Congresso e na mídia contra
a concentração de renda, a alta dos
juros, o sistema bancário como um
todo. Um empresário, líder, na época,
de uma instituição patronal, chegou
a declarar que, se o PT chegasse ao
poder, não haveria alternativa para
o empresariado a não ser emigrar.
Exagero e falta de visão à parte, a
ameaça servia como termômetro de
uma situação não tão distante assim,
dada a veemência com que o PT clamava por justiça social e contra o excessivo lucro do capital em detrimento do trabalho aviltado pelos grupos
no poder.
Há dois anos e meio, povo e mídia,
independente do governo e do PT,
não fazem outra coisa a não ser escancarar, diante dos atuais governantes, a contradição entre o discurso antigo e a ação atual -ou a falta
de ação. Contradição que muitos
chamam de traição, das muitas que
tivemos ao longo da nossa história.
Ao mesmo tempo, e na mesma semana, os jornais noticiaram que pesquisa recente revelou que 43% da população brasileira ganha menos do
que um salário mínimo. A função de
um cronista é comentar e analisar.
Neste caso, nada há a comentar nem
analisar. Basta mostrar a realidade.
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