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ELIANE CANTANHÊDE
"Figura impoluta"
BRASÍLIA - Milton Zuanazzi detestava Denise Abreu, que detestava Zuanazzi, e os dois afundaram
juntos. Já a turma de José Dirceu
detesta a turma de Dilma Rousseff,
que detesta a de Dirceu, mas foi só a
dele que afundou, enquanto a de
Dilma emerge disputando a Presidência com apoio de Lula.
Mas, na história ainda mal contada da tentativa ora rocambolesca,
ora imoral, e sempre ilegal, de salvar a Varig, eles foram personagens
secundários. O foco é Roberto Teixeira, a filha Valeska e o genro Cristiano, os amigões não só do presidente que despacha no Planalto
mas do casal que habita o Alvorada.
O advogado Teixeira é o compadre de Lula e Marisa que lhes emprestava o apartamento. E é ligado
tanto à Gol quanto aos testas-de-ferro do fundo Matlin Patterson. O
fundo comprou a VarigLog, com
aval de Dilma e da Anac, apesar de a
lei limitar em 20% o capital externo
no setor. Depois, a Gol de Nenê
Constantino adquiriu a "Varig saneada" e entrou pelo cano. O elo entre governo, Anac, Matlin Patterson, Varig e Gol era quem?
Num e-mail cheio de mágoas escrito para Dilma em 2006, três meses depois de assumir a Anac, Zuanazzi cita abertamente, mal ou
bem, o ex-ministro Waldir Pires, o
ex-presidente da Infraero Carlos
Wilson, a segunda da Casa Civil,
Erenice Guerra, entre outros, mas
empaca ao falar das pressões de um
personagem. Nesse caso, refugia-se
temerosamente na expressão "figura impoluta", que Dilma sabe muito
bem quem é: Roberto Teixeira.
Nem mensalão, nem aloprados,
nem cartão corporativo, nem dossiê, nada pode chegar tão perto de
Lula quanto o rolo da Varig. E Dilma e Dirceu podem se matar à vontade, mas as armas e objetivos são
políticos. Já a guerra de Teixeira é
outra, uma guerra de negócios.
Lula vai se calar. Não sabe, não
viu, nunca ouviu falar. Mas vai ter
de explicar como o amigo e compadre tem tanta força, além de desenvoltura, no seu governo.
elianec@uol.com.br
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