São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MISSÃO IMPOSSÍVEL

Com seu espaço aéreo fechado, protegido por caças e helicópteros, a capital tomada por soldados e uma série de atentados que deixaram mais de dez mortos, Álvaro Uribe Vélez tomou posse ontem como presidente da Colômbia. O aparato de segurança dá a medida do desafio do novo mandatário: restabelecer a paz no país assolado por uma combinação explosiva e única de guerrilhas esquerdistas, narcotráfico e grupos paramilitares de direita.
Reverter essa situação é imperativo. Infelizmente, a tentativa de negociação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) fracassou por culpa da guerrilha, que não teve a maturidade para abandonar as armas e transformar-se num partido político. O colapso do processo de paz e a frustração dele resultante foram decisivos para a eleição de Uribe e sua promessa de "mão dura" contra o terror.
É uma política que inspira preocupações. Uribe dá indícios de que se prepara para a guerra total. Fala em organizar 1 milhão de civis para combater os grupos armados e promete dobrar o efetivo militar. Retoricamente, afirma que vai combater tanto a guerrilha esquerdista quanto os paramilitares de direita. Mas muitos analistas duvidam dessa intenção. Uribe é próximo demais dos círculos paramilitares. Há quem acredite que ele prepara uma anistia para esses grupos. Nesse caso, há até o risco de que as divisões que levaram o país à guerra civil se aprofundem.
Para completar esse quadro, o novo presidente colombiano recebe uma economia em frangalhos, como a de quase toda a América do Sul. Recentes dificuldades cambiais se somam a um endividamento externo que chega perto de 70% do PIB. Uribe tem a seu lado a disposição dos EUA de auxiliar financeira e militarmente a guerra contra o narcotráfico. Se isso vai bastar é uma incógnita.


Texto Anterior: Editoriais: DENÚNCIA DE PRESO
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Já quebrou
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.