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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Reforma, mercado e Estado

SÃO PAULO - Da catarata de palavras usadas para falar das reformas, convém que o leitor retenha frase curta e grossa de Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe do HSBC (nos EUA), conforme relato de Fernando Canzian: o importante para o mercado é que as reformas coloquem o Brasil "em uma posição de garantir o pagamento, no futuro, de suas dívidas interna e externa".
Portanto, caro leitor, interesse nacional, crescimento econômico, equidade, eliminação de privilégios, tudo isso é besteira ou, no mínimo, secundário, desde que o Brasil continue sendo bom pagador.
Isso não quer dizer que a reforma não seja necessária. Artigo dos economistas Hélio Zylberstajn, André Souza, Anderson Stancioli e Marcelo Milan publicado anteontem pela Folha apresenta convincentes argumentos sobre "transferências regressivas" de renda no sistema atual.
Mas o artigo convence quantitativamente, não qualitativamente. O que quase todo o mundo chama de "privilégios" do funcionalismo público inclui, de fato, privilégios, mas inclui também benefícios que anulam a vantagem de trabalhar para o setor privado.
Ou, para fazer uma comparação meio grosseira: é preciso tornar atraente a profissão de policial, porque, renda por renda, traficar cocaína dá muito mais.
Mesmo que se queira uma comparação com atividades lícitas, também rende mais prestar serviço de consultoria em segurança ao setor privado do que tentar aumentar a segurança do público servindo à polícia.
Na análise da reforma previdenciária, o contraponto perfeito à frase de Paulo Vieira da Cunha veio de Vinicius Torres Freire, neste mesmo espaço, ontem: "Ninguém discutiu a sério que Estado se quer".
Se se discutisse, verificar-se-ia que um Estado decente, que se supõe seja a meta de todos, salvo um ou outro tarado, custa mesmo caro. Policial bom e barato, professor bom e barato, médico bom e barato dá no que deu a política do Palmeiras de "bom e barato": segunda divisão.


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