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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Lamentos infundados

EDSON APARECIDO

A prefeita Marta Suplicy tem enfrentado baixos níveis de aprovação por parte da população de São Paulo. Recente pesquisa mostrou que 76,7% não dariam novamente seu voto à prefeita. São dados significativos e até facilmente explicáveis. A pesquisa nada mais é que a medida da frustração gerada pela fraca administração à frente da Prefeitura de São Paulo. Deveria ser motivo para reflexão e correção de rumos. Deveria. Mas, como sempre, o PT mostra sua dificuldade de enfrentar democraticamente a crítica e tenta jogar para terceiros a culpa de seus erros.
Em artigo publicado na Folha ("Tendências/Debates", 28/7), o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, manifesta inconformismo com os baixos índices de aceitação da prefeita. Na tentativa de buscar justificativas para uma administração desastrada, ele recorre a duas desculpas: a primeira é a tal história da "herança maldita", recebida no momento da posse, e a segunda é lançar ataques sem nenhum nexo ao governo estadual. O vice-prefeito "lamenta" não estar ouvindo restrições do público ao governo do Estado e se pergunta: "Por que o clamor num caso [prefeita Marta] e a contemporização, pelo silêncio, no outro [governo do Estado]?".
Quem sabe, vice-prefeito, não é pelo fato de a prefeita não ter conseguido cumprir as promessas de campanha. Será que também não pesou o fato de ela ter se colocado como candidata da modernidade e das mudanças de hábitos políticos e, depois, fazer um governo conservador, tímido e sem criatividade?
A administração de Marta Suplicy mostra empenho apenas naquelas que parecem ser as suas principais metas: a autopromoção e a criação de taxas. O que vimos nestes dois anos de administração petista na prefeitura foram aumento das despesas com publicidade (são mais de R$ 40 milhões por ano), inchaço da máquina municipal, aumento na cobrança do IPTU, a criação de novas taxas para onerar os munícipes e aumento de até 500% no ISS.
Para desviar a atenção dos graves problemas da administração petista, o vice-prefeito tenta despertar o público desse estado de "contemporização pelo silêncio", recorrendo, entre outras coisas, ao tema dos direitos humanos, do qual se apresenta como sumo pontífice. Diz que o governo estadual mantém na Secretaria da Segurança um delegado acusado de ter torturado presos políticos durante o regime militar. Ao lembrar isso, o vice-prefeito Hélio Bicudo se esquece de mencionar que o governo federal vem se utilizando de manobras para burlar a lei 10.559, de 13/11/02, que estabelece reparação econômica aos que foram punidos, demitidos ou compelidos ao afastamento das atividades remuneradas durante o regime militar.


Como sempre, o PT mostra sua dificuldade de enfrentar democraticamente a crítica

Esses ex-presos políticos, muitos deles certamente militantes petistas, como o vice-prefeito, preparam-se para uma manifestação em Brasília no dia 28 de agosto, dia em que a Lei da Anistia completará 24 anos, para protestar contra as manobras do governo federal, que pretende, à sorrelfa, reduzir em 60% o valor das indenizações a serem pagas aos ex-prisioneiros. Ainda mais graves são as articulações para impedir que se divulguem os documentos da guerrilha do Araguaia.
Mas o advogado Hélio Bicudo quer o afastamento do "suspeito de torturas", esquecendo-se das elementares regras do direito, das leis e dos regulamentos específicos do funcionalismo e, no caso em discussão, da Lei Orgânica da Polícia Civil. Esquece que o citado delegado -que exerce cargo meramente burocrático-, se afastado de sua função, a ela voltará dias depois, por força de decisões emanadas da Justiça.
Nessa tarefa de despertar o público de seu estado de "contemporização pelo silêncio", o vice-prefeito enumera o que considera mazelas do governo do Estado, entre elas o reajuste das taxas de pedágio. Só se esquece de lembrar ao público que o Estado de São Paulo realizou o mais arrojado programa de concessões rodoviárias da América Latina e que nossos principais troncos rodoviários têm qualidade e segurança comparáveis às auto-estradas européias.
O exercício do poder requer preparo e, acima de tudo, um projeto claro de gestão. A prefeita demonstra não ter um programa social para a cidade, sua principal promessa. O que é mostrado são algumas medidas esparsas, sem uma coordenação. Como já disse acima, a prefeita multiplica taxas e reajusta impostos para se intitular a autora de um saneamento nas finanças da cidade.
Por isso, é de esperar que cada vez mais os petistas busquem culpados para sua ineficiência e que apelem a ataques desesperados. Marta frustrou seus eleitores, e já foram tentados vários meios de salvá-la. Até o presidente Lula veio a São Paulo para tentar antecipar a campanha eleitoral. Mas os números mostram que os esforços foram em vão; o tempo acabou para Marta.

Edson Aparecido, 45, historiador, deputado estadual pelo PSDB-SP, é o presidente do partido no Estado de São Paulo.


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