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TENDÊNCIAS/DEBATES
Lamentos infundados
EDSON APARECIDO
A prefeita Marta Suplicy tem enfrentado baixos níveis de aprovação por parte da população de São Paulo. Recente pesquisa mostrou que
76,7% não dariam novamente seu voto
à prefeita. São dados significativos e até
facilmente explicáveis. A pesquisa nada
mais é que a medida da frustração gerada pela fraca administração à frente da
Prefeitura de São Paulo. Deveria ser
motivo para reflexão e correção de rumos. Deveria. Mas, como sempre, o PT
mostra sua dificuldade de enfrentar democraticamente a crítica e tenta jogar
para terceiros a culpa de seus erros.
Em artigo publicado na Folha ("Tendências/Debates", 28/7), o vice-prefeito
de São Paulo, Hélio Bicudo, manifesta
inconformismo com os baixos índices
de aceitação da prefeita. Na tentativa de
buscar justificativas para uma administração desastrada, ele recorre a duas
desculpas: a primeira é a tal história da
"herança maldita", recebida no momento da posse, e a segunda é lançar
ataques sem nenhum nexo ao governo
estadual. O vice-prefeito "lamenta" não
estar ouvindo restrições do público ao
governo do Estado e se pergunta: "Por
que o clamor num caso [prefeita Marta]
e a contemporização, pelo silêncio, no
outro [governo do Estado]?".
Quem sabe, vice-prefeito, não é pelo
fato de a prefeita não ter conseguido
cumprir as promessas de campanha.
Será que também não pesou o fato de
ela ter se colocado como candidata da
modernidade e das mudanças de hábitos políticos e, depois, fazer um governo
conservador, tímido e sem criatividade?
A administração de Marta Suplicy
mostra empenho apenas naquelas que
parecem ser as suas principais metas: a
autopromoção e a criação de taxas. O
que vimos nestes dois anos de administração petista na prefeitura foram aumento das despesas com publicidade
(são mais de R$ 40 milhões por ano), inchaço da máquina municipal, aumento
na cobrança do IPTU, a criação de novas taxas para onerar os munícipes e aumento de até 500% no ISS.
Para desviar a atenção dos graves problemas da administração petista, o vice-prefeito tenta despertar o público desse
estado de "contemporização pelo silêncio", recorrendo, entre outras coisas, ao
tema dos direitos humanos, do qual se
apresenta como sumo pontífice. Diz
que o governo estadual mantém na Secretaria da Segurança um delegado acusado de ter torturado presos políticos
durante o regime militar. Ao lembrar isso, o vice-prefeito Hélio Bicudo se esquece de mencionar que o governo federal vem se utilizando de manobras
para burlar a lei 10.559, de 13/11/02, que
estabelece reparação econômica aos
que foram punidos, demitidos ou compelidos ao afastamento das atividades
remuneradas durante o regime militar.
Como sempre, o PT mostra sua dificuldade de enfrentar democraticamente a crítica
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Esses ex-presos políticos, muitos deles
certamente militantes petistas, como o
vice-prefeito, preparam-se para uma
manifestação em Brasília no dia 28 de
agosto, dia em que a Lei da Anistia completará 24 anos, para protestar contra as
manobras do governo federal, que pretende, à sorrelfa, reduzir em 60% o valor
das indenizações a serem pagas aos ex-prisioneiros. Ainda mais graves são as
articulações para impedir que se divulguem os documentos da guerrilha do
Araguaia.
Mas o advogado Hélio Bicudo quer o
afastamento do "suspeito de torturas",
esquecendo-se das elementares regras
do direito, das leis e dos regulamentos
específicos do funcionalismo e, no caso
em discussão, da Lei Orgânica da Polícia Civil. Esquece que o citado delegado
-que exerce cargo meramente burocrático-, se afastado de sua função, a
ela voltará dias depois, por força de decisões emanadas da Justiça.
Nessa tarefa de despertar o público de
seu estado de "contemporização pelo silêncio", o vice-prefeito enumera o que
considera mazelas do governo do Estado, entre elas o reajuste das taxas de pedágio. Só se esquece de lembrar ao público que o Estado de São Paulo realizou
o mais arrojado programa de concessões rodoviárias da América Latina e
que nossos principais troncos rodoviários têm qualidade e segurança comparáveis às auto-estradas européias.
O exercício do poder requer preparo
e, acima de tudo, um projeto claro de
gestão. A prefeita demonstra não ter um
programa social para a cidade, sua principal promessa. O que é mostrado são
algumas medidas esparsas, sem uma
coordenação. Como já disse acima, a
prefeita multiplica taxas e reajusta impostos para se intitular a autora de um
saneamento nas finanças da cidade.
Por isso, é de esperar que cada vez
mais os petistas busquem culpados para
sua ineficiência e que apelem a ataques
desesperados. Marta frustrou seus eleitores, e já foram tentados vários meios
de salvá-la. Até o presidente Lula veio a
São Paulo para tentar antecipar a campanha eleitoral. Mas os números mostram que os esforços foram em vão; o
tempo acabou para Marta.
Edson Aparecido, 45, historiador, deputado estadual pelo PSDB-SP, é o presidente do partido no Estado de São Paulo.
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