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CESAR MAIA
Ilusão de intimidade!
NUMA CONSULTA em 1992,
Glorinha Beuttenmüller
disse que a TV produzia
uma intimidade entre expectador e
"ator". E que isso valia para os políticos. Portanto, estes, no contato
pessoal, deveriam retribuir esta intimidade.
Nestes cinco anos, o impacto da
TV na política diminuiu: menos
TVs ligadas, zapeamento, troca
com a internet, pela sensação de
uma novela já vista várias vezes. No
Brasil, isso foi sentido em 2004;
nos EUA, demonstrado na eleição
de 2008. O uso crescente da internet na política é causa e efeito disso. Vale a pena retornar ao auge da
TV na política e a seus pesquisadores, comparando aos dias atuais.
Destaco aqui um clássico dessa
época: "The Reasoning Voter"
(1991), de Samuel Popkin (traduzido para circulação restrita). Popkin
dizia que o eleitor usava atalhos para obter informações e, com esses,
decidia. Hoje há uma excitação do
fator emocional em campanhas. A
questão dos "atalhos" de Popkin
pode ajudar a entender melhor o
processo de formação de voto, sem
abusar da emoção.
Popkin dizia que o crescimento
na audiência dos noticiários da TV
produziu uma guinada histórica
em direção a uma política centrada
no candidato. Esse jornalismo político mostrou-se mais nacional e
mais centrado nos políticos individualmente do que nas instituições.
As questões regionais foram perdendo força. A intensidade maior é
na pessoa do presidente, mesmo
quando se trata de assunto econômico, o que faz os eleitores relacionarem a maior parte dos fatos ao
próprio presidente. A TV ressalta o
presidente como um politico sempre em eleição.
O uso da TV pelos candidatos ao
Congresso reforça essa regra: na
hora do voto, quanto mais dinheiro
se gasta em mídia, mais os fatores
pessoais predominam sobre os fatores partidários. As considerações
políticas são mero pano de fundo
sob o qual se desenrolam as questões pessoais.
O noticiário na TV retrata a política como conflitos entre pessoas, e
não entre instituições ou princípios. Os debates tornaram-se uma
espécie de seriado universal. E
conclui com Scott Keeler (texto do
mesmo nome, 1987) afirmando: a
TV cria uma "Ilusão de Intimidade".
Desse ponto, voltemos à percepção recente de que a TV perdeu impacto sobre a política. É verdade,
muito menos pela comunicação
em si e muito mais pelas novas interveniências. O texto de Popkin
continua atual. Só que hoje o mesmo impacto da TV na política sofre
interferências de outros meios, seja por alternativa, seja por espalhamento, seja por interação.
A mesma TV, com os mesmos
elementos, só produzirá o mesmo
impacto se usar bem essas relações. Alexandre Hannud Abdo, no
Mais! de 26/7, nos ajuda a entender melhor este novo quadro.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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