São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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RUY CASTRO

O meio já era a mensagem

RIO DE JANEIRO - Marshall McLuhan teria feito 100 anos outro dia. Voltou subitamente às folhas, e seu livro "The Medium is the Massage" está saindo numa nova tradução brasileira. Ótimo. Resta ver se provocará nos garotos de hoje a impressão que nos causou quando o abrimos pela primeira vez, em 1968, poucos meses depois que ele foi lançado em Nova York.
Na época, foi um choque. Aquele não era bem um livro, mas um objeto do futuro -um show de imagens, palavras e recursos gráficos, para veicular as ideias mais provocativas, sobre o conhecimento e a comunicação. Tanto que McLuhan não era o único autor. Seu editor de arte, Quentin Fiore, o coassinava.
Se tivéssemos que buscar referências para defini-lo, teríamos de ir a filmes de Godard, como "Pierrot le Fou" e "Alphaville", à revista "Esquire", ao jazz, à pop art, às histórias em quadrinhos. Ou ao concretismo -não por coincidência, Décio Pignatari era um de seus campeões no Brasil.
Quando se anunciou que, à falta de McLuhan, Quentin Fiore estava vindo ao Rio, o frisson foi o mesmo. O ano era 1969. Fiore deu uma palestra na Esdi (Escola Superior de Desenho Industrial), na Lapa, para um auditório abarrotado. Na noite seguinte, levado por Pignatari, foi o centro de uma reunião no apartamento de Ecila e José Lino Grünewald, em Copacabana.
Fiore tinha 50 anos e estava esperto. Encantou-se por uma bela menina da Esdi, de 20 anos. Ela também gostou dele. Entusiasmado, Fiore contou sobre como o livro tinha sido feito -ele, em seu estúdio em New Hampshire; McLuhan, em Toronto. Não precisavam se encontrar. Os dois trocavam textos, desenhos, fotos e layouts por um aparelho recém-criado, que transmitia tudo. Algo chamado "fac simile". Ou seja, "The Medium is the Massage" foi feito por intermédio do avô do fax. Não sabíamos, mas o meio já era a mensagem.


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