São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Dormindo com o inimigo
MIGUEL JORGE
Estamos agindo com lassidão e indiferença ante a violência. Claro que aqui não se compara, de maneira nenhuma, o terror que se abateu sobre Nova York e que levou o mundo a um clamor como há tempos não se via. Ou ao choque causado na civilizadíssima Suíça quando uma discussão com um motorista de ônibus levou um tresloucado cidadão a matar 15 pessoas. A tragédia das torres do World Trade Center acabou com 6.000 vidas em alguns minutos e foi transmitida para o mundo todo, via satélite. Com raríssimas exceções, a tragédia da nossa violência -que se repete a cada minuto, a cada hora, a cada dia- não merece nem um registro num programa noticioso de uma TV local. Nossa lassidão e nossa indiferença em relação à violência é aquela relacionada à de toda hora e de todo dia. Simbolizam não a síndrome de Estocolmo -termo surgido em 1973, na Suécia, quando uma vítima de sequestro decidiu casar-se com seu captor-, mas refletem o quadro trágico em que vive a família brasileira, sem amplos horizontes sociais e econômicos e, além de tudo, atordoada e já quase anestesiada pelo medo espalhado pelo crime. Jean François Steurman, no livro "Treblinka", sobre o Holocausto na Segunda Guerra Mundial, defendia a tese de que, no final do conflito, os judeus caminhavam serenamente para as câmaras de gás. Guardadas as proporções, a ineficiência -aparente ou real- da força policial indica, na prática, uma sociedade que parece submissa à sanha dos criminosos. Perdeu a capacidade de reagir, de protestar contra o crime, de cobrar providências e de obrigar os agentes públicos a protegê-la -até bandidos inexperientes sentem que podem agir livremente. Sem dúvida, estamos todos sós e, em termos de segurança pública, há que se começar tudo de novo. Não há muito tempo para isso. Logo, logo teremos de ficar presos em casa, dia e noite, para escaparmos dessa situação. Nos Estados Unidos, nos anos 30, foi o clamor da sociedade que fez diminuir drasticamente os crimes ligados às organizações criminosas. Mais recentemente, em Nova York, o prefeito Giuliani mostrou que é possível vencer a guerra contra o crime. Meias reformas na polícia não adiantam mais, pois equivaleriam a não fazer nada. Há que se pensar, desde já, de um lado, em termos de reorganização da polícia, de concentração de esforços, de programas de treinamento, de salários dignos e de armamento mais moderno. De outro, é preciso mudar as práticas, os processos e a mentalidade das forças policiais. Miguel Jorge, jornalista, é vice-presidente de Assuntos Corporativos do Grupo Santander Banespa. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Emir Sader: Guerra e paz Índice |
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