São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Efetividade da Justiça
CLÁUDIO BALDINO MACIEL
Num país em que o trabalho escravo no campo, os conflitos pela posse da terra, o recrudescimento do crime organizado, o descontrole do sistema penitenciário e a informalidade da economia coexistem com complexos negócios jurídicos do mundo globalizado, demandas em massa e toda a sorte de conflitos decorrentes das novas tecnologias e da comunidade cibernética, não prover o Judiciário de instrumentos e estrutura adequados para solucionar com brevidade e eficiência os conflitos que se multiplicam aos milhares nessa sociedade dinâmica compromete a credibilidade do Poder, com imenso prejuízo à cidadania. Os magistrados -mesmo a grande maioria que trabalha inclusive aos fins de semana- sentem-se igualmente frustrados por não conseguirem ver seu esforço resultar em dados positivos de efetividade na jurisdição. Após todo o transcurso do processo, da produção de provas, das audiências e inquirição de testemunhas, das perícias e provas, outras sobrevêm a sentença. Quem tem direito ganha, mas não leva, pois há necessidade de liquidação e, portanto, de novo processo. Liquidada a decisão, após mais uma exasperante perda de tempo e dinheiro, falta, ainda, a execução, com novas possibilidades de defesa e recursos processuais de toda ordem. A Justiça de primeiro grau, em que mais se investem recursos materiais, tem sido mera etapa de passagem, na qual quase nada é definitivo porque de tudo se admite recurso. Perde-se tempo e dinheiro, frustram-se direitos e expectativas. Despenca a credibilidade do Judiciário e debilita-se o Estado de Direito. Há mais de dez anos debate-se uma reforma do Poder Judiciário no Congresso Nacional, sem êxito. Mesmo aprovada, ela não solucionará seus maiores problemas, pois a crise é de funcionalidade, e não da estrutura constitucional. Resolve-se basicamente por legislação infraconstitucional. O Judiciário não pode ter mais utilidade para quem não tem direitos do que para quem os tem. Os juízes não estão mais dispostos a pagar o elevado preço que decorre do colapso de um sistema de baixa efetividade; sistema que não criaram e do qual são críticos agudos. Os magistrados querem, por isso, propor soluções eficientes e úteis, desapegadas da cultura ritualística que transforma os processos judiciais -que deveriam ser meros instrumentos para a satisfação de direitos- em fins em si mesmos. Sua experiência de magistratura e sua atuação associativa estarão a serviço dessa causa, em favor da sociedade. E farão propostas para mudanças efetivas e ousadas, com a confiança de que o Legislativo possa, aprimorando-as, dar ao Judiciário reais condições para cumprir com efetividade sua missão constitucional. Cláudio Baldino Maciel, 48, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, é presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Allegretti: Reduzindo os desastres Índice |
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