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CLÓVIS ROSSI
Primeira classe, quarta classe
ESTOCOLMO - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva diz, uma e outra
vez, que o Brasil será a quinta ou
sexta potência mundial até 2016, o
ano em que a Olimpíada será no
Rio. Tomara. Mas não é esse o torneio realmente relevante.
A China já é a segunda ou terceira
economia mundial, mas, como sua,
digamos, família é excessivamente
numerosa, em termos de renda per
capita está entre as mais pobres do
G20 -imagine então do G2.
O Brasil, por sua vez, já é a oitava,
nona ou décima economia do mundo, mas é apenas o 75º colocado no
Índice de Desenvolvimento Humano. Está longe portanto de ser de
primeira classe, ao contrário do que
crê o presidente.
Sem contar que o Brasil está entre os líderes em um aspecto negativo: é o quarto maior emissor de gases poluentes.
O sentido comum, portanto, diria
que a agenda ideal para o país seria
combinar essa busca pelo pódio em
matéria de crescimento econômico
com uma colocação bem melhor
em emissão de gases.
Fácil de falar, difícil de fazer, até
porque não há país que possa servir
de modelo para essa combinação.
O Brasil, em todo o caso, leva uma
vantagem: sua estrutura energética
é das mais limpas do mundo, talvez
a mais limpa. O ponto fraco brasileiro é o desmatamento. Somado ao
de outras áreas do mundo, o desmatamento gera 20% da emissão de
gases que ameaçam o planeta.
Dito de outra forma: o Brasil tem
menos necessidade do que outros
países de reinventar sua economia,
para torná-la "verde", como dita o
jargão da moda. Pode ser "limpo"
apenas policiando com competência a devastação florestal.
Não basta reduzir o desmatamento, há que eliminá-lo. Para isso,
no entanto, é preciso aceitar que o
justo direito ao crescimento, que
Lula também enfatiza regularmente, não significa fazê-lo a qualquer
custo, inclusive o de sujar o planeta
e, por extensão, o futuro.
crossi@uol.com.br
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