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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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IDÉIA ESTÚPIDA

Num perverso conluio do burocratismo com a insensibilidade, o governo federal submeteu uma legião de idosos a um constrangimento cruel e desnecessário. No que talvez tenha sido a pior gafe do atual governo até aqui, o Ministério da Previdência chegou a suspender o pagamento de todas as aposentadorias e pensões destinadas a idosos com mais de 90 anos ou que recebessem o benefício há mais de 30 anos.
Não se contesta, é claro, o dever do governo de combater fraudes. Calcula-se que, dos 105 mil aposentadorias supostamente pagas a pessoas com mais de 90 anos, 30 mil estejam irregulares. Um recadastramento é, de fato, necessário. Mas é preciso ter perdido o contato com a realidade para determinar que milhares de pessoas com mais de 90 anos fiquem com o ônus de provar que existem. Não é necessária especialização em gerontologia para perceber que muitos dos aposentados nonagenários devem ser sozinhos e podem apresentar dificuldades de locomoção bem como problemas de saúde. É desumano pretender submetê-los a esse procedimento.
E o detalhe absurdo é o governo ter chegado a suspender o pagamento dos benefícios. Os aposentados em idade avançada não podem ser responsabilizado pelas fraudes. Chegar a cogitar de cortar-lhes a aposentadoria -o dinheiro com o qual se alimentam, compram remédios etc.-, foi um toque extra de crueldade.
Felizmente, o governo reverteu a decisão e agora considera um recadastramento mais longo, sem a suspensão dos benefícios. O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, depois de relutar um pouco, teve a coragem de admitir o erro e pedir desculpas à população. Menos mal.
É preciso agora que se promova um recadastramento inteligente que não sacrifique os nonagenários. O país deve respeito a seus idosos.


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