São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Novo bicho-papão

BRASÍLIA - Pelas últimas entrevistas em série do Departamento de Estado dos EUA, o foco do terrorismo na América do Sul deixou de ser a tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), onde os EUA insistiam em ver fantasmas árabes debaixo de pontes, carros e camas prontos para explodir Washington.
Agora o foco está na Venezuela de Hugo Chávez, que, pelas notícias, seria capaz de tudo -até de financiar movimentos guerrilheiros, facilitar passaportes falsos para árabes entrarem em Miami e transformar as belas ilhas Margarida em pólo de lavagem de dinheiro de terroristas.
De quebra, o secretário-assistente de Estado para as Américas, Roger Noriega (o conservador dos conservadores), publicamente acusou o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, de estar promovendo "um giro à esquerda" no país e "decepcionando a Casa Branca".
Bem. A única conclusão possível é que Bush e os seus estão se cansando do Oriente Médio e se preocupando com a América do Sul, justamente a uma semana da Cúpula das Américas, no México. Por que será?
Há várias hipóteses. Uma: o Departamento de Estado detectou efetivamente um processo de "esquerdização" ou de "antiamericanismo" na região e está se precavendo. Duas: o sofisticado (e caríssimo) aparato de segurança precisa de inimigos para justificar sua gastança e garantir verbas do Congresso. Terceira: Bush vai disputar a reeleição neste ano e precisa animar a torcida e os eleitores.
As três hipóteses se complementam, mas a terceira é imbatível. Bush provavelmente está mirando no poderoso eleitorado conservador e também deve estar de olho nos grandes financiadores da campanha republicana e no próprio Congresso.
Para um embaixador brasileiro de pés no chão, tudo pode ser resumido numa única frase: "Bush começou sua campanha e agora ele não tem mais o Saddam Hussein". Bingo!
Pelo sim, pelo não, Chávez, Fidel e até Kirchner que se cuidem! Lula está a salvo. Até agora.


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