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ELIANE CANTANHÊDE
Novo bicho-papão
BRASÍLIA - Pelas últimas entrevistas em série do Departamento de Estado
dos EUA, o foco do terrorismo na
América do Sul deixou de ser a tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), onde os EUA insistiam em
ver fantasmas árabes debaixo de
pontes, carros e camas prontos para
explodir Washington.
Agora o foco está na Venezuela de
Hugo Chávez, que, pelas notícias, seria capaz de tudo -até de financiar
movimentos guerrilheiros, facilitar
passaportes falsos para árabes entrarem em Miami e transformar as belas
ilhas Margarida em pólo de lavagem
de dinheiro de terroristas.
De quebra, o secretário-assistente
de Estado para as Américas, Roger
Noriega (o conservador dos conservadores), publicamente acusou o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, de estar promovendo "um giro à
esquerda" no país e "decepcionando
a Casa Branca".
Bem. A única conclusão possível é
que Bush e os seus estão se cansando
do Oriente Médio e se preocupando
com a América do Sul, justamente a
uma semana da Cúpula das Américas, no México. Por que será?
Há várias hipóteses. Uma: o Departamento de Estado detectou efetivamente um processo de "esquerdização" ou de "antiamericanismo" na
região e está se precavendo. Duas: o
sofisticado (e caríssimo) aparato de
segurança precisa de inimigos para
justificar sua gastança e garantir verbas do Congresso. Terceira: Bush vai
disputar a reeleição neste ano e precisa animar a torcida e os eleitores.
As três hipóteses se complementam,
mas a terceira é imbatível. Bush provavelmente está mirando no poderoso eleitorado conservador e também
deve estar de olho nos grandes financiadores da campanha republicana e
no próprio Congresso.
Para um embaixador brasileiro de
pés no chão, tudo pode ser resumido
numa única frase: "Bush começou
sua campanha e agora ele não tem
mais o Saddam Hussein". Bingo!
Pelo sim, pelo não, Chávez, Fidel e
até Kirchner que se cuidem! Lula está
a salvo. Até agora.
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