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Hora de reformar
Nova medida contra
subfaturamento nas
importações expõe a
confusão e a necessidade
de mudança no Mercosul
UM NOVO curto-circuito
envolvendo o Mercosul deixou à mostra a
necessidade de mudanças no bloco comercial que
envolve Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. É preciso conferir mais autonomia a seus membros, tanto na condução de políticas setoriais que envolvam comércio exterior como em eventuais acordos bilaterais com outros países ou blocos.
Desta vez, a recorrente falta de
coordenação no governo Lula levou as pastas de Relações Exteriores e Desenvolvimento a pedir ao Planalto uma revisão de
medida adotada pela Fazenda,
alegando que ela fere as regras do
bloco. A decisão é parte da MP
413, que aumentou tributos para
compensar o fim da CPMF.
A medida determinou a substituição das atuais tarifas de importação em 11 grupos de produtos por uma alíquota específica
de R$ 10 por quilo ou unidade de
medida da mercadoria. O objetivo é impedir que importadores
no Brasil subfaturem e façam
contrabando nas compras externas ao registrar preços em guias
de importação incompatíveis
com o volume negociado.
Há casos absurdos registrados
pelo setor têxtil: por conta da
prática, toneladas de tecido entram no país a preços irrisórios,
tornando inviável a competição
para indústrias locais. Além de
tecidos, a medida vale para artigos como calçados, bebidas, borracha, ferramentas, algodão e
plásticos, entre outros.
Mas os importadores de tecidos e vinhos, por exemplo, calculam que a nova determinação
possa representar um aumento
de tarifas de até 750% e 1.400%,
respectivamente. Pelas regras
dos parceiros do Mercosul, que
se propõem a manter uma Tarifa
Externa Comum (TEC), esse tipo de alteração deveria ter sido
decidido em comum acordo.
Decisões unilaterais no bloco
não são novidade. O exemplo
mais recente ocorreu em 31 de
dezembro, quando o governo argentino decidiu prorrogar até setembro a vigência da cota de importação de aparelhos de TV
produzidos em Manaus. Até lá,
as compras argentinas oriundas
da Zona Franca não poderão superar 10% do total do mercado,
cerca de 175 mil unidades ao ano.
Na última reunião do Mercosul, realizada recentemente em
Montevidéu, nada disso foi abordado. Também ficaram de fora
assuntos delicados como as fábricas de celulose na fronteira
entre Argentina e Uruguai e as
aspirações de alguns dos membros do bloco de firmar acordos
bilaterais com outros países fora
do formato 4+1 -que exige a participação de todos os integrantes
do Mercosul. A abordagem dessas e outras questões foi empurrada para o final de 2008.
O momento talvez seja ideal
para abandonar a incongruente
união aduaneira, na qual Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai
funcionariam como uma só nação nas relações econômicas
com outros blocos e países. O
melhor é trabalhar pela consolidação da área de livre comércio
(tarifa zero entre associados),
fortalecendo instituições de arbitragem de conflitos que garantam mais autonomia a decisões
internas de cada membro.
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