São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Calma dentro do governo

SÃO PAULO - Em julho do ano passado, a gente discutia o "caos social". Quem ainda se lembra do "caos social"? Os nativos estavam inquietos (como diziam os buanas dos filmes do Tarzã): o MST invadiu mais terra que de costume, farrapos politizados marcharam em ruas que apenas ricos e esmoleres freqüentam.
Logo o "caos social" de julho se foi, sem recado e sem bilhete, assim como o frio do inverno paulistano, que é pouco e ora não dura mais de 15 dias (faz uns 30 anos, de manhã cedinho a água chegava a congelar no canto de pára-brisas e janelas).
Vieram as cheias, a crise do "fogo amigo" no governo, a volta da "polêmica desenvolvimentistas vs. monetaristas", boato de queda de Henrique Meirelles. As enchentes passarão em março, no ano que vem os pobres serão afogados outra vez e, até lá, haveremos de ouvir mais tolice e de nos ocupar de crises inexistentes.
Quem conversava com Dirceu e Palocci lá por março de 2003 ouvia deles discursos quase idênticos sobre a agenda do governo, cumprida como previsto pelos dois. Não parece diferente agora. É o que se depreende de conversas com gente no governo.
O comitê central lulista, Palocci, Dirceu e Gushiken, está calmo, afora rusgas de vaidades, desejos de abiscoitar algo do poder do próximo, fissuras em relações de resto amistosas, devidas ao desgaste do convívio próximo no poder. Lulistas candidatos estão incomodados. Houve fofocas no mercado (bidu. E daí?)
O comitê central acha que lá por maio, junho a economia estará melhorzinha, calando aliados mais inquietos. Lula não gosta mesmo de certos secretários, mas nada sério. Palocci e Meirelles só balançam, e olhe lá, se o país crescer bem menos que os 3,5% prometidos. Chato que Lula tenha escanteado a lei da autonomia do BC, mas, quem sabe, não se discute isso no ano que vem?
A calma no governo pode dar nos nervos de quem não gosta do que vê na política e na economia. Mas que parece bem haver calma, parece.



Texto Anterior: Editoriais: BOM OU RUIM

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Ritmo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.