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MARINA SILVA
Renda básica na política
HÁ UM QUASE consenso de
que a política brasileira
precisa de mudanças profundas. São várias as receitas, desde implosão total até uma reforma
empacada há tanto tempo que o
problema parece estar menos nas
regras e mais na cultura política,
obcecada pelo poder como objetivo
em si.
Nosso sistema político se descola
perigosamente da função de fazer a
mediação entre ideais e a vida real.
Não consegue enxergar além dos
conflitos intra e interpartidários,
das artimanhas eleitorais, das disputas irracionais e da gana de impor derrotas ao adversário, ao custo, às vezes, do próprio interesse
nacional.
Há saídas, e senti isso na negociação das comissões no Senado,
com parlamentares de vários partidos dispostos, acima de suas demandas, a preservar pilares democráticos, tais como os direitos da
minoria.
Dois partidos, PT e PSDB, têm
responsabilidades específicas para
aprofundar esse caminho. Desde o
final do regime militar, têm sido as
forças mais estáveis no comando
do país e, talvez até por isso, identificaram-se com projetos nacionais,
mais do que os outros grandes
partidos.
Por vários motivos, de PT e
PSDB se esperariam limites à guerra política, mas há exemplos, de
parte a parte, de comportamento
contrário. Erram quando se recusam ao diálogo sistemático em
questões cruciais e são vítimas da
própria armadilha: no governo ou
na oposição, têm que se aliar indiscriminadamente.
Se mantivessem pontos de contato, dificilmente se tornariam reféns de maiorias indefinidas e,
muitas vezes, inconsequentes. A
permanente possibilidade de
aliança entre ambos equilibraria os
acordos políticos em geral, atraindo quadros responsáveis do
PMDB, do DEM, do PV, do PDT, do
PSB -de todos, enfim- e reduzindo a margem de casuísmos.
Unidos pelo resgate da política e
por meio de um alinhamento ético,
PT e PSDB contribuiriam para catalisar o que há de melhor em todos
os partidos, em benefício de si mesmos, dos demais e, principalmente,
do país.
Parafraseando o senador Suplicy, seria uma espécie de renda
básica da governabilidade, assegurando o interesse nacional acima
de agendas partidárias e disputas
de data marcada. E isso é possível.
Arriscado é nos enredarmos no
passado, fazendo de conta que estamos com os olhos no futuro. O
futuro exige, no presente, política
de futuro: madura, menos mesquinha, apta a enfrentar tempos de
instabilidade e vulnerabilidade.
Se PT e PSDB serão duas grandes
forças nas eleições de 2010, que comecem a definir agora os seus próprios termos de referência para
que elas aconteçam, de fato, em
torno de projetos para o Brasil.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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