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CARLOS HEITOR CONY
O nome do molho
RIO DE JANEIRO - Devemos aos intelectuais do PT uma louvável contribuição à semântica nacional. Antigamente, quando os governos trocavam favores em troca de adesão,
eram indistintamente acusados de fisiológicos. Agora, a fisiologia mudou
de nome, tornou-se governabilidade.
Para governar, bem ou mal não importa, é necessário cometer atos fisiológicos. Tudo bem. Lula e o PT são
mesmo diferentes, desdenham o fisiologismo que sempre combateram.
Apenas adquiriram governabilidade.
Já contei duas historinhas a respeito da troca de nomes e conceitos.
Uma delas, inspirada no extenso e pitoresco anedotário iídiche, conta que
dois judeus, Samuel e Jacó, se encontraram e um deles disse para o outro:
"Samuel, meu coração está cheio de
tristeza! Ouvi dizer que seu filho está
dando!". No dia seguinte, Samuel encontra o amigo e diz: "Jacó, meu coração está cheio de alegria! Meu filho
não está dando, está tomando!".
A outra história envolve cristãos.
Um abade licencioso vai a Paris e se
hospeda numa pensão de prostitutas.
Na primeira ceia, servem-lhe um assado de carneiro ao molho de madame Pompadour. O abade prova e se
rejubila: "Excelente! Só que lá no
meu convento este é o molho de santa
Teresinha!".
Dar ou tomar, num certo sentido,
podem ser a mesmíssima coisa. Madame Pompadour e santa Teresinha,
a cortesã dissoluta e a santinha do
Carmelo, conforme as circunstâncias,
podem ter o mesmo sabor. Fisiologismo e governabilidade, nos dicionários futuros, serão sinônimos, graças
a Lula, ao PT e a seus intelectuais. A
língua, como aquela dona da ópera
de Verdi, é "mobile".
Para efeitos de "Diário Oficial", que
bate o martelo nas nomeações, editais de concorrência e decretos que
regulam a vida nacional, os nomes
são indiferentes, desde que signifiquem a mesma coisa.
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